Querem Meu Sangue

Então vão ter muito trabalho

Março vai quase acabando com as águas que fecham o verão e apresentam o outono eu quase não postei aqui. A vida está difícil mas nem por isso eu vou desistir de escrever, principalmente porque março é o mês de aniversário do blog. Dessa vez completamos 5 anos de viagens e, para celebrar, aqui vai uma música que tem muito a ver com a superação de obstáculos e dificuldades, como a de encontrar tempo para escrever, por exemplo. É do Cidade Negra e está presente no disco "Sobre Todas As Forças", de 1994. Segue a letra:




Querem Meu Sangue
(Cliff/Reis)

Dizem que guardam bom lugar pra mim no céu
Logo que eu for pro beleléu.
A minha vida só eu sei como guiar
Pois ninguém vai me ouvir se eu chorar.
Mas enquanto o sol puder arder
Não vou querer meus olhos escurecer

Pois se eles querem meu sangue
Verão o meu sangue só no fim.
E se eles querem meu corpo
Só se eu estiver morto, só assim.

Meus inimigos tentam sempre me ver mal,
Mas minha força é como o fogo do Sol.
Pois quando pensam que eu já estou vencido
É que meu ódio não conhece o perigo.
Mas enquanto o Sol puder brilhar
Eu vou querer a minha chance de olhar.

Pois se eles querem meu sangue
Verão o meu sangue só no fim.
E se eles querem meu corpo
Só se eu estiver morto, só assim.

E eu vou lutar pra ter as coisas que eu desejo.
Não sei do medo, amor, pra mim não tem preço
Serei mais livre quando não for mais que osso,
Do que vivendo com a corda no pescoço.
Mas enquanto o Sol no céu estiver
Eu vou fechar meus olhos quando quiser.

Pois se eles querem meu sangue
Verão o meu sangue só no fim.
E se eles querem meu corpo
Só se eu estiver morto, só assim.

Dê o play e comece a viagem:



Vamos à andança...

Querem Meu Sangue me chamou a atenção por sua letra de cunho poderoso e desafiador. Mas não é um desafio arrogante. Nem um poder exibicionista. Diferente destes dois sentimentos egocêntricos, o poder e o desafio da letra do Cidade Negra são uma resposta à opressão. É o tipo de sentimento de quem já apanhou tanto da vida que não sente mais dor. Os calos são grossos. As cicatrizes são duras. Seu corpo se tornou uma armadura contra os agressores e esses nada mais podem lhe fazer de mal. Essa vítma já não sente mais medo. O que ela sente agora é a força de seu espírito, grande e resplandecente como nunca. E esse poder, ninguém jamais será capaz de minar. No ritmo de um reggae bem balançado, Tony Garrido diz: "Meus inimigos tentam sempre me ver mal, mas minha força é como o fogo do sol. Quando pensam que eu já estou vencido, é que meu ódio não conhece o perigo". Há então uma virada em que o ritmo ganha uma força bonita. O cantor diz: "E enquanto o sol puder brilhar, eu vou querer a minha chance de olhar". Esse narrador é, como muitos, uma vítma da sociedade. Acorda cedo, trabalha. Vende o almoço e paga a janta. Leva porrada de graça sem revidar. Sua único ataque é a defesa. Sobreviver é a vitória diária. Mas além de apenas sobreviver, tudo que ele quer é o direito de viver. Quer poder se sentir livre para olhar o céu e admirar o sol. O mundo é grande há espaço para todos. Então por quê só alguns podem desfrutar do que há de melhor? Ele só quer justiça. O que há de mais belo na poesia não é a perseverança infinita do herói, mas sim sua incapacidade de desejar o mal a quem lhe fere. Ele quer apenas o seu direito de ser feliz, sem tirar esse direito dos outros, como muitos costumam fazer. No refrão a banda explode essa fortaleza cheia de orgulho e de espírito intocável: "Se eles querem meu sangue, terão o meu sangue só no fim. E se eles querem meu corpo, só se eu estiver morto, só assim". Lição de vida. O mérito da obra é do grande músico do reggae, Jimmi Cliff, cuja versão do Cidade Negra escrita por Nando Reis é bem fiel, porém um pouco mais agressiva - quase uma ameaça espartana. Enquanto o músico jamaicano coloca mais tranquilidade e infalibilidade na voz - como no refrão: "Quanto mais forte eles vierem, mais forte eles cairão" - a banda carioca deixa o tom de revolta mais evidente. Outro ponto interessante da obra original e a ponte que diz: "Quando meus inimigos pensarem que venceram a batalha, oh Deus, perdoe-os pois eles não sabem o que fizeram". O teor religioso de ambas as versões é o que dá o tempero especial para a música. Há ali, em meio à revolta, o desafio e à vontade desesperadora de viver um profundo ato de desapego do que é mundano. Afinal, o que é de Deus ninguém nunca vai tocar e isso sempre brilhará como o sol ;)

Comentários

Anônimo disse…
essa música é do titãs né?
DAVIZINHO disse…
Parabéns pela narrativa. Perfeita!
Continue lutando.
Felipe Andarilho disse…
Obrigado pelo comentário Davi!! Grande abraço
Marcelo Tonieto disse…
Essa música é uma versão feita pelo Nando Reis de uma música do Jimmy Cliff, que faz parte de disco Titãs de 1984 faixa 6.

(The Harder they come) é o nome da versão original.