Fumaça sobre a água. Fogo no céu.

A música que vou falar hoje tem a vantagem de ser conhecida por todos. Qualquer que seja o gosto do ouvinte - rock, pop, blues, samba, reaggae, ou qualquer outro - é praticamente impossível que não se tenha ouvido Smoke on the Water, clássico máximo do Deep Purple. Essa música, além de um dos maiores hits do Purple, é uma experiência incrível que carrega muito mais do que parece. Muito mais. Faz parte do "Machine Head", disco de 1972. Segue a letra:




Smoke On The Water
(Gillan / Paice / Lord / Blackmore / Glover)

We all came out to Montreaux
On the Lake Geneva shoreline
To make records with a mobile
We didn't have much time

Frank Zappa and the Mothers
Were at the best place around
But some stupid with a flare gun
Burned the place to the ground

Smoke on the water, fire in the sky
Smoke on the water

They burned down the gambling house
It died with an awful sound
Funky & Claude was running in and out
Pulling kids out the ground

When it all was over
We had to find another place
But Swiss time was running out
It seemed that we would lose the race

Smoke on the water, fire in the sky
Smoke on the water

We ended up at the Grand Hotel
It was empty, cold and bare
But with the Rolling truck Stones thing just outside
Making our music there

With a few red lights and a few old beds
We made a place to sweat
No matter what we get out of this
I know we'll never forget

Smoke on the water, fire in the sky
Smoke on the water

Vamos à andança...

Ritchie Blackmore não estava brincando quando quis criar um riff tão marcante que faria os garotos tocarem numa loja de instrumentos durante a escolha de uma guitarra. Pode parar pra pensar: se você toca violão ou conhece alguém que toca, qual música foi a primeira música que você escutou, recém saída do instrumento? A chance de ser Smoke on the Water é gigantescamente grande. Comes As You Are, do Nirvana e Satisfaction dos Rolling Stones, dentre outras ocupam a pequena parcela seguinte. Isso mostra o quê, além de que Blackmore é um gênio? Mostra que não é preciso muito pra ser incrível. Se for simples, porém bem feito, já é meio caminho andado. Soma-se à isso uma perícia majestosa em cada outro instrumento que acompanha o riff e, é claro, na voz de quem cantará a poesia, e pronto. Está feito um dos maiores clássicos da história do rock. O riff dessa canção é tão simples e tão bom, que não nos cansamos dele. A música é longa, tem mais de 5 minutos e boa parte dela é recheada desse riff progressivo. Mas a sensação que fica é que é pouco. Quanto ela acaba, também com o riff em fade out, queremos mais... Mas como dito, nem só de riff vive Smoke on the Water, mas de outro trecho maravilhoso também na guitarra: o solo. Eu, particularmente, demorei pra realmente viajar nessa canção. Demorei, mas quando prestei atenção no solo, percebi que era uma das melhors viagens que eu já tinha feito. O solo se desenvolve do riff e surge limpo e calmo. Com suas notas bem definidas, Blackmore consegue evoluir até um agudo incrível - a sublime última casa da guitarra, numa acelerada violenta que culmina quase numa risada. Sim, uma guitarra rindo de si própria. Rindo do absurdo que ela é capaz de fazer. O Deep Purple é conhecido por ter integrantes ótimos em cada posto e, além do show descrito apenas na guitarra, essa melodia ainda trás destaque pro tecladinho de Jon Lord, sempre acompanhando de perto a guitarra com uma maestria sem igual. É legal notar em cada ponto onde guitarra e baixo somem por instantes, o tecladinho que continua destruindo. Ian Gillan sempre excelente alcança seus nívels agudos sem dificuldade descrevendo essa história real que ocorreu com a própria banda: "Chegamos em Montreau, nas margens do lago Geneva, pra fazer uma gravação num estúdio móvel. Não tinhamos muito tempo. Frank Zappa and the Mothers estavam nos melhores lugares, mas um estúpido com um sinalizador, queimou o lugar até o chão". Daí explica-se o lendário refrão: "Fumaça na água e fogo no céu" que é seguido pelo riff inspiradamente. E foi mais ou menos assim mesmo que os Deep Purple sobreviveram a um incêndio no estúdio móvel dos Rolling Stones quando estavam gravando esse ótimo disco e um sinalizador disparado acidentalmente colocou o lugar pra queimar. Após a destruição do recinto eles acharam outro lugar pra tocar ("we have to find another place") e criaram essa maravilhosa canção inesquecível. E o último verso é o que define nossa sensação diante de uma obra como Smoke on the Water. Gillan diz, tranquilo: "Não importa o que ganhamos com isso, eu sei que nunca esqueceremos" ;)

PS: Quem diz que não gosta dessa música (muito provavelmente porque já ouviu ela demais) peço que ouça mais uma vez.

Nunca ouviu?

Ouça mais uma vez, com aquela atenção especial ao solo. Escute:

Comentários

Alexandre Iervolino disse…
Ótimo blog Felipe! Gostei muito da sua descrição sobre a música, realmente você entendeu a composição.

Parabéns e não pare!