Quando terminei meu segundo livro, Meditando no Banheiro, e pedi para o mestre chargista Márcio Baraldi escrever um prefácio para apresentar o livro, me surpreendi com um texto em que ele chamava de "O Último Beatnik".
A surpresa se deu por que eu não imaginava que minha escrita soaria tão facilmente Beatnik.
Foi uma boa surpresa.
Um elogio, assim eu entendi. Fiquei orgulhoso, devo admitir.
Os Beatniks foram artistas da década de 50, criadores de um estilo de vida inspirado na liberdade, na amizade e no questionamento. Mais ou menos como os Hippies viriam a fazer posteriormente. Nomes Beat famosos são Jack Kerouac, Charles Bukowski e William S. Burroughs.
Como ser associado à nomes grandiosos como esses pode não ser um elogio? Escritores Beat foram (e continuam sendo) inspiração para meus textos.
Banda Porcas Borboletas: muito humor e força musical em versos Beat
Creio que o que mais me chamou a atenção em livros como On The Road, de Jack Kerouacc, foi a liberdade. O desejo de viver a vida, sem regras, sem amarras.
Não há preconceito em uma história Beat. Tudo é permitido e tudo é perdoável, desde que feito com emoção.
É o que viria a ser a essência do espírito Rock'n'Roll.
"Curtindo o que a vida me dá de presente", como sintetizaria tão bem, décadas depois, as Velhas Virgens, outros ícones da cultura (ou contracultura) Beat.
E há alguns anos conheci uma outra banda que compartilha dessa mesma essência e, não por acaso, acabei viajando completamente no som deles: Porcas Borboletas.
Não trazem consigo a mesma alegria pulsante das Velhas, mas encontraram o caminho para a música dos deuses com outro tipo de humor: o autodepreciativo. Dessa forma a banda entrelaça um trabalho instrumental de primeira com letras que versam sobre conquistas amorosas mal sucedidas, deficiências físicas do narrador, desilusões com projetos pessoais e muito mais.
Tudo com um estranho e poderoso carisma na voz do vocalista Danislau.
Quem viveu a vida minimamente não vai conseguir deixar de sentir empatia em versos como:
Todo mundo está pensando em Sexo. Todo mundo disfarçando muito bem. Será que só você não? Será que só você não? Meu bem...
Ou:
Tudo que eu tentei falhou: Sapatênis, bandana, sunga dos states, suspensório Relacionamento aberto, fechado, ménage à trois, suruba psicodélica Abstinência do uso de drogas seguido da suspensão da abstinência Paraíso, purgatório, inferno, rua augusta
É necessária uma rara habilidade para rir dos próprios problemas.
Enquanto a maioria das pessoas acaba sucumbindo às pressões e as derrotas, Porcas Borboletas faz música. Eles riem do destino. Sabem que não é preciso levar tudo à sério e que, por mais difíceis que sejam nossos desafios, tudo fica mais fácil com amigos em uma mesa de bar.
É aquele pensamento que só os mais sábios conseguem incorporar: se não der certo, afinal, pelo menos a gente tomou umas cervejas e deu risada.
Embora a filosofia Beat fique evidente em canções como Derrota Transcedental, Você Mentiu,Ejaculação Precoce e nas já citadas, é em Aninha, uma canção mais simples e intimista, que o grupo atinge o ápice da viagem musical.
Acompanhando um poema ligeiro que descreve com delicadeza a Aninha do título, a guitarra cria um ambiente profundo e envolvente. As cordas hipnotizam e os versos saem com brisa:
Greta garbo The pin-up's dreams The fifties Tudo existiu Pra vestir aninha
Após aprisionar o ouvinte com o clima sereno e misterioso, o grupo está livre para explodir. É quando a canção vira um Rock vigoroso. Os versos se repetem, mas paixão pela Aninha se torna visceral, obsessiva.
Não há conclusão para a história, mas isso não a torna menos perfeita.
Ao contrário, é justamente por esse olhar distante que a obra ganha importância.
Trata-se, afinal, de apenas uma constatação. Um devaneio, como em Heaven dos Rolling Stones ou Cheap Day Return do Jethro Tull. Um momento de delírio no qual o narrador, como nós, é impotente. Como a maioria dos eventos de nossas vidas, não há muito o que fazer. Apenas aceitar e admirar.
Depois dessa ausência de quase 2 anos aqui no blog, não estranhe, amigo leitor, se eu precisar colocar alguns assuntos em dia.
Não pense que não ouvi e não conheci diversas canções incríveis nesse meio tempo.
Claro que não.
Apenas não escrevi sobre, mas a música boa continuou pulsando dia após dia nos meus ouvidos e coração e me lembrando do quão boa é a vida.
E uma das bandas que acabei me envolvendo até mais do que o normal é a Associação Livre Invisível.
Associação Livre Invisível, em lançamento do disco "Avisos Luminosos". Foto: Felipe Andarilho.
Isso por que sou amigo de infância do guitarrista Cássio Cordeiro.
Não escondo o orgulho de dizer que o conheço há uns 20 anos.
Você pode dizer isso de algum amigo? 20 anos? Tudo bem, que sejam 10... Pode dizer?
Se pode, deve se orgulhar disso também.
Já ouvi de um punhado de pessoas que não é fácil fazer amigos. Mais difícil ainda seria mantê-los.
Entendo o que dizem. Mas, por algum motivo, fui agraciado pelos céus no campo da amizade. Precisaria de mais do que as duas mãos para numerar meus amigos de longa data. E o Cássio é um deles. Um dos mais antigos.
Eu estava lá quando ele ganhou sua primeira guitarra. "Tipo a do George Harrison", ele dizia, orgulhoso. Devia ter uns 12 anos.
Na época eu tinha ganhado uma gaita dos meus pais e assoprava canções fáceis dos Beatles. Nos reuníamos na quadra do prédio para tentar tocar alguma coisa. Não saía nada. As que eu sabia na gaita, ele não sabia os acordes. As que ele conhecia na guitarra eram difíceis demais para eu tocar.
Mas a gente ria. Isso que importa.
Com o tempo, Cássio foi se envolvendo cada vez mais com a música e eu com comunicação e design. Seguíamos nos encontrando ocasionalmente para aquele bom papo e, após uma certa idade, aquela boa cerveja. Foi nesse meio tempo que aconteceu uma das histórias mais divertidas do livro Meditando no Banheiro.
Eu estava lá também, anos depois, quando ele encontrou seu mestre pela primeira vez. Estávamos no Manifesto Bar para curtir um show cover do Deep Purple. O guitarrista era um monstro virtuoso chamado Fernando Piu que certamente não ficava devendo em nada para Ritchie Blackmore.
Cássio viu ele no palco e disse: "Quero ter aula com ele".
Cássio Cordeiro, com a Associação Livre Invisível, em 2019. Foto: Felipe Andarilho.
O cara solava na Pictures of Home e mesclava a microfonia das caixas de som com as notas que fazia com rapidez e precisão, parecendo colher com as mãos as notas que queria no ar. Era realmente impressionante.
- Você nem sabe se ele dá aula - respondi - mas o cara é bom mesmo.
O show acabou e Cássio falou com ele. Se tornou aluno dele. E, com os anos, virou outro monstro virtuoso.
Vi shows do Cássio com diversas bandas nos mais variados Rock Bares de São Paulo. Alguns já nem existem mais.
Há alguns anos, porém, ele me contou, em uma mesa de bar, que estava em uma banda grande. Coisa fina, profissional. Uma Big Band, com metais, percussão e tudo o mais. Estavam gravando um disco, ele disse.
Nessa época eu estava trabalhando com fotógrafo de eventos. Me ofereci para fotografar o show de estréia da banda.
Foi assim que conheci a Associação Livre Invisível.
Que o Cássio era um guitarrista astuto e inspirado eu já sabia. O que eu não sabia é que ele estava agora num time de mestres. A Associação faz um som que bebe do Soul, do Rock, do Hip Hop e de uma outra infinidade de sons brasileiros e latinos. Um trio de metais faz acompanhamentos e solos incríveis nas canções com balanço ora puramente agradável, ora altamente viajantes.
O trabalho do vocalista Didi Monteiro, que também assina as letras do grupo, é outro ponto de destaque. Sua presença de palco é marcante e a técnica vocal ajuda a conduzir com maestria o som recheado do conjunto.
O primeiro show que fotografei deles foi no Sesc Belenzinho, em São Paulo, no lançamento do seu primeiro disco, "Trânsito", de 2019.
Associação Livre Invisível, no Sesc Belenzinho, em 2019. Foto: Felipe Andarilho.
O disco é explosivo e instigante. Logo que o grupo começou as primeiras notas eu soube que estava diante de algo grandioso. Uma explosão violenta de energia dominou o auditório do Sesc. Impossível não se contagiar. Eu queria fotografar, mas ficou difícil me concentrar nas lentes, luzes e configurações. Era muita pulsação. Muita felicidade transbordante.
A harmonia da banda é surpreendente e os duetos entre a guitarra e os metais são arrepiantes com destaque para as canções As Chaves (ouça no player acima), Atitude Suspeita e Vade Retro Baby (player abaixo).
O álbum conta com a participação especial da cantora Kimani, e Danislau da banda Porcas Borboletas (que aparecerá por aqui em breve).
Voltei a fotografá-los em um show na Casa de Cultura Chico Science, no Sacomã, em São Paulo, em que eles tocaram Da Lama Ao Caos na íntegra, além de outros hits da lendária banda Chico Science e Nação Zumbi. Sou fanático pelos 2 discos lançados pelo grupo pernambucano e a execução foi tão poderosa que eu me peguei o evento inteiro fotografando e cantando junto todas as músicas.
Associação Livre Invisível, na Casa de Cultura Chico Science, em 2019. Foto: Felipe Andarilho.
E o evento mais recente que pude captar com minhas lentes foi o lançamento do 2º disco da Associação, em fevereiro de 2020, dessa vez no palco icônico do Centro Cultural São Paulo, que já serviu de cenário para apresentações dos mais lendários nomes da música brasileira. Foi lá que eu conferi esse show do Made in Brazil.
"Avisos Luminosos" chegou embalado no seu antecessor com a mesma pegada poderosa e ritmo delirante, porém com um novo e importante ingrediente: a crítica pesada ao Governo Bolsonaro.
Associação Livre Invisível, no CCSP, em 2020. Foto: Felipe Andarilho.
Não são poucas as alusões ao presidente nos versos. "Arminha na mão, tiro no pé" e "É um falso messias" são exemplos na canção Fim da Porra Toda. A banda ainda abriu o show com uma compilação de frases assombrosas do governante. Não deve ter sido difícil recolher as frases, já que o ocupante do Planalto filtra muito pouco o que passa em sua cabeça, mas o trabalho vale a pena para escancarar o quão estamos desprovidos de um representando com o mínimo de respeito e dignidade.
Kamasutra Alquimista (ouça abaixo), a abertura do disco, começa com um groove envolvente, que se mantém em Gritos, Revolta e Coragem. Harmonia é a palavra-chave. Outro destaque, Hildegard Sampaio Seixas joga os holofotes para o preconceito contra os transsexuais e conta com a participação emocionante de Verônica Valentino.
O final do disco vem com um apoteótico trabalho instrumental após Didi Monteiro anunciar o apocalipse em um monólogo assustador, chamado simplesmente de Anúncio.
Trata-se de um disco rápido, potente e, acima de tudo contundente. A música sempre foi um dos muitos caminhos para o protesto pacífico e a expressão de ideias opostas ao que é considerado como padrão. Quando o protesto é feito com maestria musical e um ritmo empolgante, está montada a combinação perfeita e que cai como uma luva para o momento político atual.
Gritos de alerta não costumam ser agradáveis de ouvir. "Avisos Luminosos" é exceção à regra.
Muito antes de conhecer o som dos Novos Baianos eu conhecia de nome Moraes Moreira, Baby Consuelo e Pepeu Gomes.
Novos Baianos reunidos. Foto: Divulgação
Sempre fui mais ligado ao Rock. Ou seja, estava sempre rodeado de amigos roqueiros. E como todos amigos roqueiros do planeta, nossa conversa era basicamente sobre bandas, indicações de novas músicas, histórias sobre shows ou onde alguém encontrou um disco raríssimo.
Quando o assunto chegava nas bandas nacionais a coisa ficava feia para mim. Consumidor ferrenho do que vinha de fora, meu conhecimento se resumia a bandas inglesas e norte-americanas. Pior: tudo antigo. A maioria das bandas que eu gostava já tinham acabado há muito tempo. Eu tinha histórias para contar aos amigos, mas se o assunto fugisse daquele limitado círculo, eu passava de contador de histórias à ouvinte.
E nessas audições ouvia vez ou outra o nome de Pepeu Gomes. Não conhecia o cara. Nem sabia que ele tinha tocado nos Novos Baianos. Mas, pelo que eu ouvia, o cara era bom. O descreviam como um semideus da guitarra. O cara que faz o que quer com a música, como diria meu pai.
Pepeu Gomes, o mestre. Foto: Reprodução.
Numa época em que Youtube não passava de uma ideia no subconsciente de algum futuro gênio da internet, eu tinha duas opções: pedir emprestado algum CD do cara ou continuar ouvindo Beatles. Naquele tempo eu ainda era bastante acomodado, confesso, e continuei curtindo minhas bandas de cabeceira.
Muitos anos depois, com o comodismo superado (graças a Deus) por uma curiosidade faminta sobre músicas boas (e não apenas mais Rock, mas de tudo mesmo) acabei finalmente conhecendo os Novos Baianos.
Foi amor à primeira ouvida.
Dei sorte e comecei de cara com o disco Acabou Chorare. Considerado por muitos especialistas como uma obra-prima da música brasileira, o disco é, de fato, uma pérola. Um tesouro diferente de tudo que eu conhecia. Uma alegria pulsante, efervescente que transbordava na poesia cantada com maestria por Moraes Moreira e Baby Consuelo. E a guitarra? Ah, a guitarra. Pepeu era realmente o que meus amigos diziam. Ele não entendia de música. Ele parecia ter inventado a música. Cada solo ou acompanhamento era uma dose de vivacidade indestrutível.
Capa do disco Acabou Chorare, um clássico da música brasileira.
E o mais formidável disso tudo era a mistura. O que eles tocavam? MPB? Bossa-Nova? Samba? Rock? Na verdade eles tocavam tudo isso e muito mais. Até Tango os caras abraçaram. Tudo misturado de um jeito que os gêneros apenas de aprimoram e nunca destoam. Nada parece fora de lugar no som dos Baianos. Tudo é perfeito, redondo e bonito.
E ver isso ao vivo foi mais que um presente.
Não apenas ouvi as excelentes músicas do grupo tocadas ao vivo. Pude conhecer um pouco deles. Pude aprender com eles.
Pude sentir amizade e alegria que permeiam não só as músicas como a própria história da banda, naqueles anos em que eles, despreocupados com o mundo, viviam em comunidade em um sítio. Todos eles, amigos, morando junto e fazendo o que amavam fazer: música boa, de coração.
Ao presenciar ao vivo a perícia de Pepeu Gomes com a guitarra outra lição veio como uma flecha na mente. Afinal ele estava lá. Uma lenda da guitarra. Um cara que dominou plenamente sua arte e dela fez seu ofício. Um cara do Rock que não se prendia à estilos ou gêneros, mas, ao contrário, vivia do que gostava tocando de tudo. Sem preconceito. Sem exigir respeito, mas recebendo-o por onde quer que fosse simplesmente por ser um mestre no que faz.
Novos Baianos ao vivo em São Paulo, 1/9/2017. Foto: Felipe Andarilho
E Baby Consuelo? Se eu já havia há muito tempo me apaixonado por sua voz em canções como A Menina Dança e Tinindo Trincando, qual não poderia ser minha alegria ao vê-la ali? Cantando e dançando, exaltando a mais pura alegria de viver em cada gesto. Exatamente como eu a imaginava quando escutava seus discos.
Um dos momentos mais incríveis da noite foi com a saída temporária de Jorginho Gomes da bateria para assumir o Cavaquinho. Ele nem bem havia secado seu suor e já começou com acordes de Bilhete para Didi, numa versão mais lenta, porém extremamente emocionante. Se no disco a faixa era um exemplo de como os caras dominavam seus instrumentos, ver a música nascendo, crescendo, acelerando e explodindo ao vivo foi uma experiência arrepiante.
A voz de Moraes Moreira não é a mesma. Disso ninguém discorda. Mas o mais interessante é perceber que ninguém estava preocupado com o tom de voz dele. Era tanta energia no palco com o próprio Morais conduzindo um violão delirante que tudo o que o público queria era que aquela festa durasse mais e que cada momento ficasse bem guardado na memória.
Paulinho Boca de Cantor também contribuiu com a viagem sonora deliciosa, emprestando a voz em diversas pérolas, sendo o principal destaque a poética Mistério do Planeta. E falando em poeta, não pode passar batido o fato de a banda reservar um espaço no palco para o compositor da maioria das músicas deles: Luiz Galvão que até soltou a voz em algumas canções e declamou uma bonita poesia.
Mais do que um show, o que vi naquela noite no Espaço das Américas foi uma aula. Um aprendizado completo sobre amar o que se faz sem se preocupar com o resto. Sobre ser quem você é e fazer tudo o que fizer com alegria no coração.
Já imaginou como seria receber um dos artistas que você mais admira na sua casa? Veja aqui como o Fernando Noronha, um dos maiores músicos do Brasil, foi parar na minha casa
Esse cartaz que você vê acima se refere à um show que não existiu.
Pelo menos não oficialmente.
Se fosse gravado e lançado, seria um bootleg, um daqueles discos extra-oficiais (forma polida de dizer "pirata"). Mas seria o melhor de todos os bootlegs, pelo menos na minha opinião e, tenho certeza, na das outras 14 pessoas que estavam na Lil' Wilson's Hall.
Wilsinho, o Lil' Wilson e dono do Hall, é meu primo e o show, acredite você ou não, foi na casa dele.
Essa é mais uma daqueles peculiares histórias que acontecem na minha vida e que, aos poucos, eu vou juntando e colocando em livros.
Vamos à ela então.
Há exatos 10 anos conheci o som do Fernando Noronha & Black Soul. Foi com o disco Bring It que levou a outro, depois a outro. Tenho quase todos os álbuns dos caras e, se não tenho algum é por que nunca encontrei pra comprar. São poucos os artistas que conheço que me fizeram chegar nesse ponto de fazer questão de acompanhar tudo que eles constroem. É o caso de nomes como Beatles, Red Hot Chili Peppers e Jack Johnson e a admiração que tenho por esse pessoal é a mesma que tenho pelo Noronha e sua Black Soul. Sem exagero.
Passei esses 10 anos acompanhando a carreira do Fernando Noronha & Black Soul, um grupo de blues lá do sul do Brasil. Os caras eram discretos, mas sempre muito atarefados. Percorriam o mundo levando blues do bom para os quatro cantos. Eu sorria cada vez que ficava sabendo que Noronha e sua trupe estavam na Europa, na Austrália, nos EUA, enfim, qualquer lugar em que houvesse gente afim de ouvir música de qualidade.
Fernando Noronha no evento de junho. Foto: Felipe Andarilho
E eu aguardava, é claro, o grande momento em que eles estariam em São Paulo.
Não é surpresa para ninguém que nosso país não valoriza a cultura. Com exceção do Carnaval e de grande shows patrocinados por empresas midiáticas, pouco espaço sobra para os milhares de artistas que fazem um trabalho sério em diversas áreas.
Em suma, quem curte música do naipe do blues e do jazz por aqui tem que garimpar bem e ir atrás de festivais pouco divulgados em grandes cidades ou bares que resistem aos tempos e mantém uma programação decente.
Assim, esperei alguns anos até finalmente ter a oportunidade de ver Fernando Noronha & Black Soul em São Paulo. Na ocasião o evento tomou lugar no Sesc Ipiranga e aconteceu em 2011. Você pode ter uma ideia de como foi aquela noite nesse texto.
O show do Sesc foi bom, mas nem de longe suficiente. Impossibilitado de ficar em pé ou de consumir cerveja tive que me conter na poltrona para curtir a rápida 1 hora e pouco de show em que o grupo mandou dezenas de canções excelentes, as principais de seu então recém-lançado disco, o excepcional Meet Yourself.
Passaram-se então mais 6 anos até que eu vi no Facebook algo que me chamou atenção.
Fernando Noronha estava em uma viagem pela terra do Blues, o sul dos EUA. Excursionando com seu colega de banda, o tecladista Luciano Leães, a dupla tocou em diversos bares clássicos e visitou cidades lendárias de onde saíram grandes mestres do blues, alguns dos quais hoje seriam esquecidos, não fosse pelo esforço de caras com o próprio Noronha que fazem questão de manter a antiga magia viva.
Noronha pedia no Face, como muitos artistas hoje fazem, um patrocínio para transformar a viagem em documentário. No estilo crowdfunding a campanha prometia algumas recompensas para quem colaborasse com o projeto.
Foi então que vi que a maior das recompensas incluía além do DVD do documentário e alguns outros mimos, um Pocket Show do próprio Noronha.
Seria verdade aquilo? Por um tempo duvidei, mas depois percebi que a coisa era séria. Se você colaborasse com R$1.000 um dos melhores guitarristas do mundo, líder de uma das melhores bandas do Brasil faria um show para você e seus amigos.
O valor era alto, mas nem de longe caro diante da oportunidade que se apresentava. Chamei meu primo, Renato, velho parceiro de aventuras e amante incondicional do bom e velho blues para ver o que ele achava da empreitada.
Estávamos num bar, levemente alegres, quando ele disse o que eu já imaginava:
- É o Fernando Noronha. Vamos nessa!
Assim, fechamos o patrocínio. R$500 para cada era ainda mais fácil de cobrir. Pode ainda parecer caro, mas quando sabemos que é o mesmo valor para um dia de Rock In Rio ou Lollapalooza e que, nestes eventos, você vai conferir show de grandes bandas a pelo menos 1 quilômetro do palco e pagando 10 reais numa lata de Budweiser, o preço está até que bem barato.
Ainda mais quando se trata de um cara que você admira e tem consideração. Bandas do Rock In Rio são, sem dúvida, muito boas. Elas me fazem sacudir a cabeça. Fernando Noronha me faz sentir alegria em viver.
Trata-se de um cara que é bom no que faz e o que ele faz é justamente te colocar para cima quando você o ouve. Um cara que consegue, por meio de um virtuosismo impressionante com a guitarra, transmitir a mais pura graça da vida.
Pois então estava tudo certo.
Fechamos o patrocínio.
E aí começaram as questões logísticas.
Afinal, Noronha é do Rio Grande do Sul e o show seria em São Paulo. Foi preciso encontrar um dia na agenda do músico em que ele estivesse na região para que seu Pocket Show permanecesse financeiramente viável. Surgiu a opção de fazer o evento no dia 25 de junho. Era um dia após um festival de blues em Ilhabela, então já tínhamos o principal, Noronha na área.
Wilsinho, o dono do Hall e Noronha. Foto: Felipe Andarilho
Era preciso então encontrar um lugar, convidar o pessoal e, como eu viria a descobrir depois, correr atrás de uma estrutura minimamente necessária para o evento e também providenciar o transporte do artista. Normalmente essas questões costumam ser um pé no saco. Sei disso porque trabalho com Marketing e, em 10 anos de carreira, nunca vi alguém dizer que o evento saiu 100% conforme planejado e sem stress. O diabo mora nos detalhes e um evento é cheio deles. Aprendi algumas manhas na profissão, mas ainda assim não consigo evitar todas as surpresas.
Mas, já diziam os Beatles, quando se tem amigos a gente consegue as coisas. Meu primo ofereceu sua casa, ou melhor, o salão do seu prédio. Eu tinha um amplificador velhinho, meu primo tinha outro. Um amigo conseguiu um microfone. Outro teve a gentileza de emprestar um pedestal. Fui buscar o mestre em Guarulhos. Cada um levou sua cerveja e, voilá, nosso evento estava pronto.
Se por um minuto senti um mínimo daquele nervoso frio na barriga que aflige qualquer coitado que esteja em cargo de organizar qualquer evento, isso logo se revelou mais uma suave brincadeira da vida quando o show efetivamente começou.
Foram dezenas de pérolas do blues. Hábil músico Fernando usava um pedal de gravação para fazer o som de duas guitarras. Com uma fazia a base, com outra solava como quem nasceu para aquilo. A voz tipicamente grave harmonizava em perfeição com o ritmo envolvente de saloom que o cara fazia. Era difícil assistir e acreditar que toda aquela massa sonora vinha de um cara só. Mas era assim. Como ele fazia? Não sei e nem ouso tentar entender.
Em meio à vários clássicos, algumas da própria carreira. Blues From Hell foi uma delas. Também saíram Changes, Blues for the World e, um dos pontos altos da noite, Ain't no Angel na qual meu primo e eu cantamos como fizemos em poucos shows da vida. Faltaram várias, sim. Mas nada que prejudicasse as mais de 2 horas de apresentação.
(Essa é uma que fez falta:)
Mais à frente, quando vi o Fernando Noronha mandando um som incrível com aquele meu velho amplificador e toda a pequena estrutura que conseguimos, tenho que admitir que fiquei emocionado. O cara estava ali, afinal. Na nossa casa. Tocando um blues para os nossos amigos.
E o melhor de tudo: ele era um dos nossos amigos.
Dono de um hábito que só os melhores bluesman têm, Noronha gosta da prosa. Assim como eu vi B.B. King e Buddy Guy fazendo, lá estava nosso mestre em sua inata humildade, trocando uma ideia. Simplesmente falando. Conversando sobre como descobriu tal canção. Sobre quem era a lenda humana que ninguém conhecia, mas que tinha escrito aquela pérola que ele tinha acabado de tocar.
A cada canção ele falava um pouco. Nos dava pequenas lições de música e a grande lição de que um gênio nunca para de estudar. Noronha é reconhecidamente um dos maiores músicos do Brasil e, mesmo assim, age com uma fome voraz de conhecimento. Está sempre indo atrás de sonoridades, assistindo documentários e, enfim, vendo o mundo por meio da música.
Seu documentário Highway 61: From Chicago to New Orleans é prova disso. Lá estava um cara que curtia música fazendo nada menos que pesquisar, curtir e tocar. Em breve poderemos conferir como foi a viagem pelo berço do blues, afinal, com a ajuda de outros entusiastas como eu e meu primo, Noronha conseguiu atingir a meta de financiamento do filme.
Fico feliz em ter feito uma pequena parte nessa contribuição, mas minha recompensa foi muito maior do que eu esperava.
- É sempre bom o fã distinguir o artista da obra - disse Noronha naquela noite no Lil Wilson's Hall.
Eu concordo.
Mas é muito bom perceber que o cara de quem você é fã pela obra é também um puta de um cara gente boa.
Obrigado Fernando Noronha.
Que venham mais e melhores blues para todos ;)
E para provar que essa história toda é real, esta aí a foto. Eu (esq), meu primo Renato (dir) e o grande Fernando Noronha. Foto: Alexandra Alzate
Agradecimentos especiais à Alexandra Alzate, Clarice Savastano, Wilson Soares, Renato Perazza, Tales Gremen e Luci Lazzaris pela força na organização desse pequeno-mega evento.
Bob Marley, se estivesse vivo e num momento de sobriedade (ou mesmo chapado), certamente exibiria um sorriso ao conhecer o som da Magic!
Magic! Foto: Divulgação
A mistura entre Rock e Reggae não é novidade.
Canções do Bob Marley foram regravadas por dezenas de bandas de Rock, ao exemplo de I Shot de Sheriff, que ficou ainda melhor nas mãos de Eric Clapton. Até os Beatles, lá nos anos 60, já flertavam com o ritmo, experiências que resultaram em canções como She's a Woman e Ob-la-di Ob-la-da.
Mas ainda assim não deixa de ser admirável a capacidade de misturar os ritmos de forma bem-feita. Dar uma cara moderna para essa fusão de gêneros torna o ato ainda mais especial. É o que a banda canadense Magic! tem feito.
Em 2014, há apenas 3 anos, o primeiro single dos caras, Rude, já mostrava que a banda dominava não apenas a mistura, mas a mágica - como sugere o nome da banda - de criar canções grudentas. É fácil ouvir uma única vez e já sair cantando "How can you be so rude?" num ritmo gostoso e divertido. Essa canção ficou em primeiro lugar nas paradas de vários países, incluindo nos Países Donos da Verdade (entenda-se EUA e UK), o que não deixa de ser uma pequena honra para o renegado Canadá. Lembro de ter ouvido bastante essa música enquanto vivi na Austrália entre 2013 e 2014. Na época achei que era só mais uma música boa de alguma One-Hit Wonder. Eu, como incontáveis vezes na vida, estava errado. Logo Magic! lançou também Let Your Hair Down, numa levada mais suave e romântica, mas ainda assim revigorante.
Graças ao Spotify tive a oportunidade de conferir o disco inteiro dos caras e, tenho que admitir, que não gostei tanto da obra completa. Salvando-se 3 ou 4 canções, o disco não vale uma aquisição, com várias faixas em que o grupo se perde num pop chato e sem vida. Seria melhor ter se aprofundado cada vez mais no Reggae, pois é daí onde saem as melhores canções da banda. É o caso de uma terceira pérola - esta talvez a mais valiosa de todas. No Way No. Dá uma escutada:
Essa é uma obra das boas. Daquelas músicas raras de achar. Que conseguem encontrar o equilíbrio dificílimo entre arte e comércio. Nada contra Rude, muito pelo contrário. Adoro aquela primeira canção também, mas No Way No consegue ter uma pegada mais autoral. Tem um ritmo mais envolvente, viajante e um solinho delirante, atributos que a impedem de ser excessivamente grudenta. É a obra-prima do disco e se eu acabei de escrever que não vale a pena comprá-lo, eu provavelmente estou, mais uma vez, enganado, graças à No Way No. Essa música vale ouro.
Além de mandar bem na produção dos vídeos promocionais, sempre com uma pegada bem humorada, o Magic! não parou nunca de trabalhar nas músicas.
Em 2016 veio ao mundo o segundo disco, "Primary Colours". Nele, já posso destacar mais uma canção de valor inestimável. Chama-se Lay You Down Easy:
Mais uma vez aqui fica evidente a maestria com que Rock e Reggae brincam numa fusão perfeitamente construída. Ritmo empolgante. Instrumentação impecável. Destaco também a voz do cantor Nasri Atweh que tem uma afinação poderosa e carismática, atributos que só contribuem para a imagem que a banda prega de tranquilidade e bom humor. É o Reggae em sua essência. Bob Marley ficaria certamente orgulhoso.
Magic! é uma banda na qual vale a pena prestar atenção. Está em dúvida? No Way No! Ouça, deixe os problemas de lado e abrace a causa da paz e amor por um mundo em que contas, reuniões e aplicativos poderiam muito bem dar lugar para a uma tarde com amigos, risadas e descontração ;)
Pouquíssimas obras da cultura pop conseguiram atingir um nível de qualidade tão grande em diversas mídias quanto a obra de Nobuhiro Watsuki
Há alguns anos vi uma notícia de que o mangá Rurouni Kenshin, mais conhecido no Brasil como Samurai X iria se tornar um filme. Filme mesmo, com gente e tudo o mais. O chamado Live Action.
Poster Promocional do filme Rurouni Kenshin. Foto: Divulgação
Longa dirigido por Julie Taymor respeita o quarteto de Liverpool, reinventa canções e conta uma história simples de forma bonita
Quando eu era adolescente provavelmente ouvia Beatles todos os dias. Hoje, com tantas bandas que eu gosto, não consigo manter a mesma periodicidade, mas o carinho pelo quarteto nunca diminuiu.
Matanza Fest aconteceu em São Paulo, dia 16/07/2016
Quando alguém pensa que já viveu todas as possíveis variáveis que envolvem um show musical, o destino vem e mostra, implacável como sempre, que há sempre como se surpreender, seja positiva ou negativamente.
Achei que ia conseguir conferir pela primeira vez um show do Matanza, banda que, apesar de não estar entre as minhas favoritas, é uma que respeito bastante não só pelo lado musical em si como pela legião de fãs fiéis que ela conquistou ao longo da carreira.
Tento evitar posts com datas comemorativas de bandas e discos. Nada contra celebrar 10, 30 ou 50 anos de algo relacionado à música, mas essa prática explorada por diversos veículos acaba, sem querer, mostrando erroneamente como o a boa música é algo antigo e que já não se faz mais Rock como antigamente.
O piauiense Valciãn Calixto está gravando seu primeiro disco solo, do qual já divulgou um single, a música “Teoria do Abacaxi”, amostra do que está vindo nesse trabalho. O debut terá dez faixas e trará participações de integrantes do Geração TrisTherezina, coletivo do qual o artista participa no Piauí.
A parte boa de virar a página com relação à um episódio passado é que você pode pensar nele com frieza suficiente para não se questionar demais e com carinho suficiente para relembrar os fatos com um sorriso no rosto de quem cresceu, aprendeu e hoje dá graças à Deus por ter tido a oportunidade de viver aquilo tudo.
É por isso que hoje eu consigo escrever sobre Waves, a música que talvez mais tocou nas rádios enquanto estive do outro lado do mundo, na Austrália e que certamente foi uma das que mais tocou no meu player aqui no ano que seguiu meu retorno. Posso falar sobre Summer, posso até cantar Wake me Up e I Will Never Let You Down sem correr o risco de entrar em depressão.
Com disco lançado há 2 meses, cantora continua firme e forte na música pop mundial
É comum dizer, quando alguém canta com delicadeza e e afinação perfeita, que essa pessoa canta como os anjos. Isso, apesar de se aproximar da verdade, não se aplica de todo à Julieta Venegas. À menos que você considere o anjo um bocado menos celestial e um tanto mais próximo de nós, mais humano, mais parceiro, mais amigo. Julieta Venegas tem o tipo de voz de quem você quer ter por perto, não apenas num concerto ou no DVD, mas na mesa do bar ou numa viagem inesquecível com a galera.
Um filme feito por quem ama música para quem ama música
Filmes que lidam com música são uma faca de dois gumes. Se por um lado musicais como Les Miserables e Moulin Rouge podem ser um pé no saco para quem não compra a ideia de atores saindo de uma cena completamente aleatória para se levantarem, dançarem e cantarem e depois retornarem aos seus postos como se nada tivesse acontecido; de outro, filme como Commitments - Loucos Pela Fama e E Aí Meu Irmão Cadê Você são obras que se destacam justamente por suas canções que tiram o filme do lugar comum e o colocam no patamar de verdadeiras obras primas.
Tenho uma história interessante sobre essa canção. Uma história que envolve milhares de milhas de distância, viagens, cerveja e um e-mail. Uma boa história sem uma canção é como cerveja sem gelo. Por mais que sobrem adjetivos negativos para qualificá-la, a verdadeé que ela se torna: sem graça. É por isso que coloco a própria música aqui, a verdadeira autora dessa história, uma canção de Deacon John, lançada em 2003 no disco "Deacon John's Jump Blues. Segue a letra:
Se a vida fosse um imenso jogo de RPG e você pudesse dizer à Deus, antes de nascer, que tipo de pessoa gostaria de ser, o que você escolheria? Colocaria alguns pontos em atributos físicos e seria um atleta olímpico profissional? Ou gastaria todo o cacife em inteligência para ser um astronauta ou cientista? Ou ainda, apelaria para o carisma para ser um líder nacional ou ator de Hollywood? No meu caso, por mais que opções tecnológicas ou de destaque na sociedade sejam tentadoras, iria acabar optando por algo simples. Simples como as melhores coisas da vida. Um cigano. O motivo você descobre ao ouvir a canção abaixo com atenção. É do Gypsy Kings, como poderia supor-se, parte do disco
Belas percepções que só aparecem quando voltamos pra casa
Como os ciganos, andarilhos e vagabundos ensinaram, eu saí pela estrada para ver o mundo. A maior das minhas viagens começou há quase um ano atrás, quando decidi ir morar na Austrália. Depois de tanto tempo, tantas aventuras, chegou a hora de visitar minha terra natal novamente. Se a emoção de viajar e enfrentar o desconhecido é grande, voltar para sua casa tão amada é algo totalmente diferente, mas igualmente incrível. Para descrever essa parte da viagem, nada melhor do Blackmore's Night e uma canção do disco "Fires at Midnight", lançado em 2001. Segue a letra:
Existem muitos mestres da vida. Muitos deles são nossos amigos. Pessoas normais, como eu e você, mas que tem muito à ensinar. Na verdade, somos todos mestres uns dos outros e se estamos aqui para compartilhar nossas experiências e lições em uma grande escola que chamamos de mundo, que façamos isso ao som de uma boa música. Senhoras e senhores, fiéis leitores, aqui começa uma nova edição do blog, chamada Entrevista com o Mestre. Periodicamente será publicada uma entrevista no formato de uma conversa descontraída com algum mestre que além de experiências próprias com a música, também falará sobre tudo o que cair na mesa do bar. Na primeira edição tenho a honra de trazer a participação de Felipe Thomas.
Thomas é multi-instrumentista, radialista, designer, empreendedor e presidente da REBRAM - Rede Brasileira de Músicos. Além disso, o cara é um dos maiores viajantes da boa música e hoje vai nos oferecer um pouco de suas histórias e influências.
Já contei muitas coisas sobre a minha vida no decorrer dos muitos posts já publicados. Mas algo que sempre quis fazer, mas ainda não fiz foi contar uma história. Não uma história de ficção ou um conto fantasioso, até porque não saberia por onde começar. Quero contar uma crônica, uma aventura pessoal e muito verdadeira. Não beaseada em fatos reais, mas um relato preciso e detalhado do que aconteceu naquele dia. De certa forma, acho que um dos sentidos da vida é a possibilidade de contar histórias do que você já fez. Essa é uma das muitas histórias que já vivi e tem à ver com alguns bons amigos e muita cerveja. É por isso que a contarei ao som de Velhas Virgens. Essa canção é do disco "Vocês Não Sabem Como é Bom Aqui Dentro", lançado em 1997. Segue a letra:
Como muitos dos meus leitores já sabem, a banda do meu coração é e sempre será Beatles. Conheci a banda aos 13 anos e desde então nunca parei de me aprofundar no universo dos garotos de Liverpool. Com o passar do tempo minha preferência por alguns discos muda ou passo a admirar sonoridades que antes não me fisgavam tanto. Mas o lado bom de ter uma boa memória é que eu sempre me lembro das canções e discos que foram meus preferidos em alguma época da vida. Essa canção é muito especial para mim, pois foi a primeira - isso, primeira - a ser minha música preferida dos Beatles. Foi lançada como um single em 1965 e depois apareceu na coletânea de singles "Past Masters" de 1988. Segue a letra: