[SHOW] A respiração da locomotiva Jethro Tull

Show do Ian Anderson em São Paulo, dia 14/05/2011

Depois de muita espera, mas sem grandes alardes, finalmente chegou o dia em que os fãs poderiam se deliciar com as lendárias canções ao vivo do Jethro Tull. Além do pouco alarde, foi um alarde errado, diga-se de passagem. Propagandeado como "acústico" e, incialmente apenas como "Ian Anderson", provavelmente os organizadores deixaram de vender alguns ingressos. Primeiro: Ian Anderson é Jethro Tull. A alma da banda é e sempre foi ele, então por quê não usar o nome mais conhecido? Já o "acústico" permaneceu até o final, mas já era de se imaginar que estava errado, pensando no Jethro como a pioneira banda do rock progressivo cheia das viagens instrumentais e, sobretudo, guitarrísticas. E foi isso o que o Jethro Tull fez para seus fãs, no sábado: um espetáculo viajante, progressivo e inesquecível. O encerramento ficou com essa obra-prima, do meu querido "Aqualung", de 1971. Segue a letra:




Locomotive Breath
(Anderson)

In the Shuffling madness
of the locomotive breath,
runs the all time loser,
headlong to his death.

He feels the piston scraping
steam breaking on his brow
old Charlie stole the handle and the
train won't stop going
no way to slow down.

He sees his children jumping off
at stations one by one.
His woman and his best friend
in bed and having fun.

Crawling down the corridor
on his hands and knees
old Charlie stole the handle and
the train won't stop going
no way to slow down.

He hears the silence howling
catches angels as they fall.
And the all time winner
has got him by the balls.

He picks up Gideons Bible
open at page one
but god stole the handle and
the train won't stop going
no way to slow down.

Vamos à andança...

Acompanhado por músicos de nível altíssimo, incluindo um guitarrista chamado Florian Opahle, muito mais heavy metal do que o tradicional Martin Barre que saiu da banda nos últimos anos, Ian Anderson realizou um espetáculo único. A começar pela disposição da banda: lado à lado, os cinco membros, incluindo o baterista, ganharam notoriedade igual. É claro que é difícil acompanhar a notoriedade de Ian, pulando, dançando e representando pelo palco todo, esbanjando saúde em plenos 63 anos. Tudo isso, é claro, tocando flauta de modo que dificilmente alguém no mundo conseguiria fazer. Suas danças como um fauno da floresta estavam ali, com direito até a paradinha em uma perna só - inesquecível. Tudo em meio à uma instrumentação impecável que dava nova roupagem pros clássicos da banda como Aqualung, Songs from the Wood e My God e canções mais lado B como A Change of Horses e a sensacional Budapest. Todos os presentes sabiam, sem conseguir acompanhar o vocalista nas letras devido aos ritmos diferentes, que o show era único. As mesmas canções provavelmente nunca seriam cantadas de forma igual novamente, incluindo o mega presente pros fãs: Thick as a Brick quase na íntegra, com mais de 20 minutos de duração. No fim do espetáculo, ovacionado de pé pela platéia, Ian e seus companheiros voltaram para tocar mais uma do disco Aqualung: a famosa Locomotive Breath. A canção iniciada com um pianinho solo tão bem tocado que parece apresentar uma música clássica, logo divide espaço com a guitarra e vai acelerando precisamente como uma locomotiva, até explodir e te acertar em cheio com a bateria e a guitarra seca marcando o tempo. O corpo do trem está formado, e Ian trata de declamar com sua voz bacana uma viagem pesada e psicológica, enquanto a história do narrador se mistura ao trem descontrolado, afinal: "Charlie roubou a alavanca, o trem não vai parar e não há como diminuir a velocidade". Ao fundo, a flauta, tão adorada de Anderson solta notas rápidas e aceleradas acompanhando o piano e o trem que nos leva pra longe. Ao vivo, então, só percebemos que a viagem acabou quando ouvimos os aplausos ainda mais emocionados da platéia. Mas como a respiração da locomotiva, sabemos que a viagem não terminará de vez nunca. Para sempre, na memória, Jethro Tull ;)

Nunca ouviu?

Entre nessa locomotiva de som. Escute:

Comentários

Unknown disse…
Ótima matéria Mr. Andarilho!

Não pude ir no show, e com a sua descrição deu pra ver o que perdi!!! Hahah, mas tudo bem ;)

Forte abraço!