Incendeie, Jon Lord!

Mais um Mestre do Rock que se vai

Ontem mais um ídolo do Rock se despediu de nós. Jon Lord, um dos fundadores do Deep Purple disse adeus ao nosso mundo material e seguiu - como acertadamente declarou sua família - "em direção à luz". Depois de George Harrison e Ronnie James Dio, a partida de Lord é para mim a mais sentida, visto a quantidade infinita de vezes em que viajei em suas canções. Por isso, o mínimo que posso fazer como agradecimento é prestar uma pequena homenagem à esse que foi um dos maiores nomes da história do Rock e da música em geral. Para conduzir nossa viagem, nada de canções tristes. Vamos é botar fogo no player, com a canção título do disco "Burn" de 1974. Segue a letra:




Burn
(Blackmore/Coverdale/Lord/Paice)

The sky is red, I don't understand
Past midnight I still see the land
People are sayin' the woman is damned
She makes you burn with a wave of her hand

The city's a blaze, the town's on fire
The woman's flames are reaching higher
We were fools, we called her liar
All I hear is, burn!

I didn't believe she was devil's sperm
She said, curse you all, you'll never learn!
When I leave there's no return
The people laughed till she said, burn!

Warning came, no one cared
Earth was shakin', we stood and stared
When it came no one was spared
Still I hear, burn!

You know we had no time
We could not even try
You know we had no time

The sky is red, I don't understand
Past midnight I still see the land
People are sayin' the woman is damned
She makes you burn with a wave of her hand

Warning came, no one cared
Earth was shakin, we stood and stared
When it came no one was spared
Still I hear, burn!

Vamos à andança...

Se a maldição do Deep Purple foi ter tido uma enorme inconstância em sua formação com dezenas e dezenas de músicos alternando seus postos periodicamente, a banda foi muito bem afortunada em termos de tragédias. Praticamente nunca houveram baixas nos integrantes do Purple - fato que acabou com muitas histórias de bandas lendárias como Led Zeppelin ou Lynyrd Skynyrd para citar apenas duas. Eis que, apenas três luas depois do Dia do Rock, o Purple perde um de seus maiores nomes. Tudo bem, Jon Lord não estava na banda há mais de 10 anos, mas seu nome será para sempre lembrado com admiração e respeito por ter sido ele, ao lado de outro gênio, Ritchie Blackmore, o criador de uma banda que, sem a qual, o mundo no Rock seria muito, mas muito menos. Afinal, Jon, antes de ser tecladista ou músico de Rock, era um verdadeiro Maestro. Seus estudos foram calcados em música erudita. O Rock foi apenas a válvula de escape de tamanha criatividade, já que o Deep Purple é famoso por ter incorporado em seu repertório diversas composições que misturam Rock progressivo, Hard Rock e música clássica. A banda, aliás, possui uma invejável discografia ao vivo realizada em parceria com orquestras sinfônicas do mundo todo. Quando Lord veio ao Brasil pela última vez em 2009, inclusive, foi acompanhado da Orquestra Municipal de São Paulo, tocando o lendário projeto: "Concert for Group and Orchestra" de 1969. Para entender apenas um pouco da genialidade desse Mestre, vale a pena observar a canção de abertura do disco "Burn". Se o papel de um maestro é encontrar a harmonia perfeita entre diversos músicos numa execução de boa música, talvez seja por isso que o Deep Purple é uma das bandas mais entrosadas que existe. Burn mostra isso em detalhes. A canção abre com um riff poderoso de Ritchie Blackmore, trecho que conduzirá boa parte da obra, mas que de início apresenta a bateria esmagadora de Ian Paice juntamente com o teclado ligeiro de Lord. David Coverdale, então vocalista do grupo, logo se apresenta com sua voz rouca e afinada em versos rápidos sobre "uma mulher que te faz pegar fogo com apenas um gesto de sua mão". Tal personagem, talvez uma bruxa ou feiticeira, faz parte do tema recorrente da banda inglesa: misticismo e folclore, com o qual os músicos tanto se identificavam (vide The Gipsy ou Perfect Strangers). Enquanto a moça se vinga dos que riram dela, botando fogo em tudo, somos presenteados com os vocais do baixista Glenn Hughes mandando versos agudos sensacionais. Como não poderia deixar de ser numa música dessa banda, temos viradas perfeitas que conduzem ao refrão e aos solos. Sim, dois solos piromaníacos. O primeiro, oriundo da guitarra de Blackmore te arrepia até o último pelo do cóccix, mas te deixa vivo, apenas pra morrer incinerado pelo solo de Jon Lord que entra na sequência cheio de fúria e efeitos sonoros maravilhosos. É a própria chama da personagem ganhando vida em nosso mundo sob o comando de um maestro. Como afirmei na despedida de Ronnie James Dio - outro gigante da música - minhas crenças religiosas me permitem acreditar do fundo do meu coração que Jon Lord encontra-se, neste momento, vivo em outro lugar, tocando suas belas melodias para seres mais merecedores do que nós. Por isso digo, feliz e não triste: Incendeie, Jon Lord! E continue incendiando onde quer que você esteja ;)

Obrigado, Jon.

Nunca ouviu?

Sinta o calor subindo e as chamas sibilando das mãos do Mestre. Escute:

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