[SOUNDTRACK] E Aí, Meu Irmão, Cadê Você?

Um filme em que o personagem principal é a música

No último mês o disco que mais tenho ouvido nas andanças diárias é a trilha sonora de um filme excelente chamado "E aí meu irmão, cadê você?". Esse filme, mais uma indicação excelente do Mestre Silvério, conta uma história fascinante ambientada na época em que Blues e o Country estavam começando a ganhar força, daí a tão poderosa trilha sonora do longa. Essa canção pertence ao domínio público e tem papel fundamental no desenrolar do filme. Segue a letra:




Man Of Constant Sorrow
(Tradicional)

In constant sorrow all through his days

I am a man of constant sorrow
I've seen trouble all my days
I bid farewell to ol' Kentucky
The place where I was born and raised.

The place where he was born and raised

For six long years I've been in trouble,
no pleasure here on earth I've found
For in this world, I'm bound to ramble,
I have no friends to help me now.

He has no friends to help him now

It's fair thee well, my old true lover,
I never expected to see you again.
For I'm bound to ride that Northern Railroad,
perhaps I'll die upon this train

Perhaps he'll die upon this train

You can bury me in Sunny Valley,
For many years there I may lay.
And you will learn to love another
while I am sleeping in my grave.

While he is sleeping in his grave

Maybe your friends think I'm just a stranger
My face you never will see no more
But there is one promise that is given,
I'll meet you on Gods golden shore

He'll meet you on God's golden shore

Vamos à andança...


O filme:

O Borther, Where Art Thou? (E aí meu irmão, Cadê você?) é uma produção dos irmãos Joel e Ethan Coen, uma dupla de cineastas reconhecida por uma parceria produtiva que originou histórias engraçadas, inteligentes e uma direção de qualidade notável. Confesso que não era tão fã dos irmãos, pois é deles um dos filmes mais frustrantes que já vi, Onde os Fracos Não tem Vez, que além de tudo ganhou vários prêmios - incluindo o Oscar de Melhor Filme! Mas de qualquer forma, quando vi O Brother, percebi desde os primeiros segundos - uma abertura fantástica ao som de Po Lazarus, outra canção tradicional - que estava diante de um filme único. Tal constatação se revelou verdadeira conforme o longa avançava contando a história de Everett Ulysses (George Clooney), Delmar (Tim Blake Nelson) e Pete (John Turturro). O trio de atores protagonistas está perfeito em seus papéis que exigem um jeito caipira, caricato e simples de ser. Esses quesitos são importantes, pois estamos diante de uma história que se passa na década de 30, onde três prisioneiros acorrentados precisam fugir da polícia em busca de um tesouro escondido. No meio da aventura eles se deparam com personagens e situações inusitadas numa jornada divertida e ao mesmo tempo emocionante. Um dos personagens que eles encontram é Tommy Johnson, lendário guitarrista de blues que, segundo a lenda conta, vendou sua alma ao diabo numa encruzilhada e ensinou Robert Johnson a fazer o mesmo. Os mais céticos dizem apenas que ele ensinou Robert a tocar, o que por si só já é um feito digno de nota. É importante notar que, como informam os créditos iniciais do filme, essa história é inspirada na Odisséia de Homero, que conta a saga de Ulisses e seus companheiros em busca de um tesouro e do retorno pra casa para evitar que sua amada, Penélope se case com outro. Além do nome do personagem de George Clooney, vale observar que o nome de sua esposa, em O Brother é Penny. Além dessa referência ainda temos uma versão do oráculo, do ciclope de das sereias do Homero, todos devidamente conceitualizados na década de 1930 e na Grande Depressão dos Estados Unidos. Enfim, temos aqui um filme de grande conteúdo cultural, engraçado e completamente gostoso de assistir. Mas ainda há outro quesito que justifica em muito assistir o longa.


Soundtrack:

Além do trio de atores competentíssimo no papel dos personagens principais, há um personagem maior do que eles no filme. É sua trilha sonora. Presente desde o primeiro frame de projeção até o encerramento do mesmo, as canções dão ao filme todo um entendimento maior de suas cenas. A cena das lavadeiras que seduzem o trio ao som da canção folclórica Didn't Leave Nobody But the Baby, por exemplo, é arrepiante justamente pela canção à capela na voz das belas e hipnóticas moças. Outra cena perfeita como um quadro acontece quando os heróis estão fugindo na floresta e ouvem um som de vozes cantando Down to the River to Pray e descobrem uma maravilhosa procissão que vai ao rio para ser batizada pelo padre. São por cenas como esta, que misturam a ótima direção de arte com uma trilha sonora de nível superior, que O Brother se torna um filme espetacular de assistir. Mas além dessas canções há uma que merece um destaque maior, não só por um balanço e instrumentação incríveis, mas também por seu papel na trama. Em certo ponto do filme, depois de conhecerem o guitarrista Tommy Johnson, o quarteto encontra uma rádio, onde são convidados a mostrarem seu talento musical em troca de uns trocados. Sem disperdiçar nenhuma chance, os personagens realizam uma performance de A Man of Constant Sorrow que é um show à parte. Se no longa todo o sul dos Estados Unidos ficam embasbacados com a canção dos então batizados Soggy Bottom Boys, nós como expectadores não ficamos diferentes. Ver a gravação encabeçada por George Clonney nos microfones e seus amigos nos backings, com Tommy Johnson no violão é uma cena que não será esquecida jamais. A voz de Clooney, é bom observar, foi dublada por Dan Tyminski, músico americano dono de uma voz poderosa que carrega muito do sotaque sulista do país e contribui enormemente pra viagem musical. A letra da obra fala de um homem amargurado pela vida que não tem mais amigos e que passou por muitos problemas em todos seus dias, forçado a vagar pelo mundo. O narrador ainda se despede do velho Kentycky e de sua antiga amada, a quem ele pede que o enterre num vale ensolarado para que ela siga seu caminho e encontre outro amor. Há no final uma maravilhosa epifania onde ele relembra uma velha promessa de que a verá novamente na Praia Dourada de Deus. Os backing vocals são essenciais, repetindo frases-chave com emoção e alegria. O tema da música é recorrente dos blues e country daquela época e reflete uma época de trabalho árduo e vidas sofridas como a dos prisioneiros protagonistas. A canção não só rende os 40 dólares do grupo e algumas refeições a mais, mas também é justamente a apresentação dela ao vivo, em certa altura do filme, que muda toda a sina do grupo. Sem entregar muito da magia do longa, é possível dizer que tudo seria diferente se não fosse tal bela canção e que a fortuna anunciada pelo sábio nos primeiros minutos da história depende totalmente dessa música. E com uma música desse tipo, é fácil crer numa história fantástica como essa, assim como é fácil acreditar em tesouros escondidos e mudanças de sorte repentinas providas por Deus ;)

Nunca ouviu?

Encontre luz com o Homem em Constante Sofrimento. Escute:

Comentários

Lucas Montenegro disse…
Muito legal cara, já tinha ouvido falar desse filme, mas nunca assisti. Agora que descobri que a trilha sonora tem country, e principalmente blues da melhor qualidade, com certeza vou providencia-lo para ver! E além de tudo, faz referência à Odisséia, um clássico atemporal! Já tem todos os indicativos de um bom filme, obrigado pela dica =)

Abraço!
Andarilho disse…
Cara, esse filme é sensacional. Pode ver que você não se arrependerá! Ao contrário: vai querer ver muitas vezes por causa da história bacana e principalmente pela trilha fenomenal. Valeu pela visita e pelos comentários! Apareça sempre. Abraços!
Culpada! disse…
Putz...eu nunca tinha ouvido falar do filme mas amei tudo o q vc descreveu...verei com ctz!!!...
Obrigada pela indicação involuntária..haha
Andarilho disse…
Hahahahha, então vc vai se sentir exatamente como eu! Num dia nunca tinha ouvido falar - no outro era um dos meus filmes preferidos! Haha.. Beijo, obrigado pela visita ;)
Renato disse…
A música é sensacional! A trilha sonora também.
Só me resta ver o filme.