Viva, mesmo que por um único dia, ao estilo Rock and Roll
Mais uma excelente música chegou até mim de forma misteriosa. Copiei de um amigo o disco "Made in the Shade" dos Rolling Stones - compilação lançada em 1975. Na lista de faixas do álbum consta uma belíssima epopeia musical chamada Dance Little Sister que me faz entrar em transe cada vez que a escuto. Quando fui procurar pela letra e vídeo na internet descobri que a música que tanto aprecio sem limites chama-se na verdade apenas Dance, e que a tal Dance Little Sister refere-se à outra canção de outro disco deles ("It's Only Rock and Roll", lançado em 1974) e que, apesar de muito bacana, não é tão contagiante e delirante quanto Dance. Já essa última na verdade chegou ao mundo pelo disco "Emotional Rescue", de 1980. Não sei como a música foi parar no disco que eu estava ouvindo, mas já presenciei muitos milagres para saber que suas notas incríveis não chegaram à mim por mero acaso. Segue a letra:
Dance
(Jagger/Richards/Wood)
Hey, what am I doing standing here on the corner of
West 8th Street and the 6th Avenue and...
Ah, skip it.
Nothing. Keith! Watcha, watcha doing?
Oh, I think the time has come to get out, get out
Get up, get out, get into something new
Get up, get out, into something new
Ooh! And it's got me moving (Got me moving honey!)
Ooh! And it's got me moving
Ooh! And it's got me moving
Ooh! And it's got me moving
My my my, my my my, my my my, my my my, my
Poor man eyes a rich man
Denigrates his property
A rich man eyes a poor man
And envies his simplicity.
Get up, get up, into something new
Get up, get out, down into something new
Ooh! and it's got me moving
Ooh! and it's got me moving
Ooh! and it's got me moving
Ooh! and it's got me moving
Ooh! and it's got me moving
Yeah, get up, get up, get out
Into something new
Yeah, all, woncha all, woncha all, woncha all
Don't stand accused....
Dê o play e comece a viagem:
Vamos à andança...
Há alguns anos eu ouvia meus colegas de trabalho e primos mais velhos desabafando frases como: "você sabe que está ficando velho quando todos seus amigos começam a casar e ter filhos". Na época eu achava que essa fase jamais chegaria para mim. Achava que ir à casamentos de amigos e ver seus filhos nascerem era nada mais que uma ilusão distante, vinda de um mundo adulto e sombrio. Mas como diria Ziraldo: o Menino Maluquinho, apesar de excelente goleiro, não conseguiu segurar o tempo. E como para todos, implacavelmente sem exceção, o tempo passou e agora sou eu quem se sente velho ao ver amigos casando e tendo filhos. Na última ocasião, fiz o famoso papel idiota de quem pergunta: "Como você se sente? Acha que é a hora certa mesmo?" O amigo da vez respondeu algo interessante: "Sim, sim... Já vivi no estilo Rock and Roll por tempo suficiente". Entendi de imediato sua posição e fiquei sinceramente feliz por ele, talvez pela certeza de que ele tenha aproveitado bem a vida, antes de tomar a séria decisão de iniciar uma família. Fiquei ainda mais feliz ao perceber como o termo "Rock and Roll" é usado para se referir à aproveitar ao máximo a vida, sem regras e sem limites. É um estilo de vida bom e libertador, mas como tudo na vida, em excesso, pode fazer mal. Então mais do que justo, num dado momento da vida, aposentar a guitarra e encontrar tranquilidade por algum tempo - talvez um descanso permanente, talvez uma pausa momentânea, nunca se sabe. Melhor ainda se a pessoa conseguir manter o equilíbrio entre o estilo Rock and Roll e o sossego - pois este, também em excesso, será prejudicial. Nada é permanente e o apego é um grande problema. Para aqueles que não conseguiram entender o que esse termo "estilo de vida Rock and Roll" quer dizer, creio que uma música bem escutada vale mais que um enorme parágrafo. Ouça Dance dos Rolling Stones e o estilo de vida Rock and Roll irá adentrar sua mente, sem que você precise ler ou estudar à respeito. Será preciso apenas ter vivido alguma experiência extrema de alegria e amizade para compreender. É quase como um programa instalado no computador. Vai parecer que ele já estava lá o tempo todo, enraízado, esperando que você percebesse. Dance tem um balanço arrepiante - uma mistura do funk de James Brown com o disco dos anos 70 - conduzido com a maestria de uma gigante do Rock. O ritmo tem como base uma bateria ligeira de Charlie Watts. Sobrepondo as batidas, entra uma fusão mais perfeita que a do Goku e Vejita em Dragon Ball Z, só que envolvendo o baixo furioso e galopante de Bill Wyman e a guitarra estridente, rápida e dançante de Keith Richards. Nas horas em que o baixo se sobressai com suas notas em sequencia tão poderosas e graves fazendo um contraste à guitarra gritante do fundo, é de fazer até os pelos do nariz se eriçarem. Mick Jagger também entrega-se por completo à obra, cantando com emoção e fazendo as vocalizações deliciosas que só ele sabe. Há ainda backing vocals que só aumentam o nível de insanidade nessa dança inspiradora repetindo "uhhhhhh, my, my, my, my, my". Se em Lose Yourself to Dance, o Daft Punk tenta colocar em música todo o espírito místico e supremo da dança, aqui a ideia é a mesma. A diferença essencial está na parte orgânica da obra dos Stones, composta pela harmonia de uma banda altamente talentosa e, acima de tudo, humana. É possível sentir a vida de Dance em seus defeitos - se é que podemos chamá-los assim. Refiro-me aos gritos não planejados, aos backing vocals não perfeitamente sincronizados e às vocalizações improvisadas de Jagger. É mais ou menos o que fez Brown em Where is Mozes?, deixando a música fluir naturalmente pelo som da banda e pela energia dos ali presentes. Tudo isso torna a canção uma obra única cheia da magia do Rock. Com ela podemos nos visualizar no mesmo estilo de vida da banda: cheio de viagens, carros, romances e muita bebedeira. É possível ouvir e se imaginar num carango com seus amigos descendo a Augusta em direção à alguma casa noturna ou inferninho - todos loucos, bêbados e prontos à curtir o que a vida nos dá de presente, como diria Velhas Virgens. Como eu disse antes, não acredito que seja saudável cultivar esse tipo de vida em excesso, mas garanto que quando a aposentadoria e/ou a idade chegarem nos lembraremos do estilo de vida Rock and Roll com uma saudade boa no olhar e então saberemos que tiramos o melhor dos nossos dias na Terra ;)
Mais uma excelente música chegou até mim de forma misteriosa. Copiei de um amigo o disco "Made in the Shade" dos Rolling Stones - compilação lançada em 1975. Na lista de faixas do álbum consta uma belíssima epopeia musical chamada Dance Little Sister que me faz entrar em transe cada vez que a escuto. Quando fui procurar pela letra e vídeo na internet descobri que a música que tanto aprecio sem limites chama-se na verdade apenas Dance, e que a tal Dance Little Sister refere-se à outra canção de outro disco deles ("It's Only Rock and Roll", lançado em 1974) e que, apesar de muito bacana, não é tão contagiante e delirante quanto Dance. Já essa última na verdade chegou ao mundo pelo disco "Emotional Rescue", de 1980. Não sei como a música foi parar no disco que eu estava ouvindo, mas já presenciei muitos milagres para saber que suas notas incríveis não chegaram à mim por mero acaso. Segue a letra:
Dance
(Jagger/Richards/Wood)
Hey, what am I doing standing here on the corner of
West 8th Street and the 6th Avenue and...
Ah, skip it.
Nothing. Keith! Watcha, watcha doing?
Oh, I think the time has come to get out, get out
Get up, get out, get into something new
Get up, get out, into something new
Ooh! And it's got me moving (Got me moving honey!)
Ooh! And it's got me moving
Ooh! And it's got me moving
Ooh! And it's got me moving
My my my, my my my, my my my, my my my, my
Poor man eyes a rich man
Denigrates his property
A rich man eyes a poor man
And envies his simplicity.
Get up, get up, into something new
Get up, get out, down into something new
Ooh! and it's got me moving
Ooh! and it's got me moving
Ooh! and it's got me moving
Ooh! and it's got me moving
Ooh! and it's got me moving
Yeah, get up, get up, get out
Into something new
Yeah, all, woncha all, woncha all, woncha all
Don't stand accused....
Dê o play e comece a viagem:
Vamos à andança...
Há alguns anos eu ouvia meus colegas de trabalho e primos mais velhos desabafando frases como: "você sabe que está ficando velho quando todos seus amigos começam a casar e ter filhos". Na época eu achava que essa fase jamais chegaria para mim. Achava que ir à casamentos de amigos e ver seus filhos nascerem era nada mais que uma ilusão distante, vinda de um mundo adulto e sombrio. Mas como diria Ziraldo: o Menino Maluquinho, apesar de excelente goleiro, não conseguiu segurar o tempo. E como para todos, implacavelmente sem exceção, o tempo passou e agora sou eu quem se sente velho ao ver amigos casando e tendo filhos. Na última ocasião, fiz o famoso papel idiota de quem pergunta: "Como você se sente? Acha que é a hora certa mesmo?" O amigo da vez respondeu algo interessante: "Sim, sim... Já vivi no estilo Rock and Roll por tempo suficiente". Entendi de imediato sua posição e fiquei sinceramente feliz por ele, talvez pela certeza de que ele tenha aproveitado bem a vida, antes de tomar a séria decisão de iniciar uma família. Fiquei ainda mais feliz ao perceber como o termo "Rock and Roll" é usado para se referir à aproveitar ao máximo a vida, sem regras e sem limites. É um estilo de vida bom e libertador, mas como tudo na vida, em excesso, pode fazer mal. Então mais do que justo, num dado momento da vida, aposentar a guitarra e encontrar tranquilidade por algum tempo - talvez um descanso permanente, talvez uma pausa momentânea, nunca se sabe. Melhor ainda se a pessoa conseguir manter o equilíbrio entre o estilo Rock and Roll e o sossego - pois este, também em excesso, será prejudicial. Nada é permanente e o apego é um grande problema. Para aqueles que não conseguiram entender o que esse termo "estilo de vida Rock and Roll" quer dizer, creio que uma música bem escutada vale mais que um enorme parágrafo. Ouça Dance dos Rolling Stones e o estilo de vida Rock and Roll irá adentrar sua mente, sem que você precise ler ou estudar à respeito. Será preciso apenas ter vivido alguma experiência extrema de alegria e amizade para compreender. É quase como um programa instalado no computador. Vai parecer que ele já estava lá o tempo todo, enraízado, esperando que você percebesse. Dance tem um balanço arrepiante - uma mistura do funk de James Brown com o disco dos anos 70 - conduzido com a maestria de uma gigante do Rock. O ritmo tem como base uma bateria ligeira de Charlie Watts. Sobrepondo as batidas, entra uma fusão mais perfeita que a do Goku e Vejita em Dragon Ball Z, só que envolvendo o baixo furioso e galopante de Bill Wyman e a guitarra estridente, rápida e dançante de Keith Richards. Nas horas em que o baixo se sobressai com suas notas em sequencia tão poderosas e graves fazendo um contraste à guitarra gritante do fundo, é de fazer até os pelos do nariz se eriçarem. Mick Jagger também entrega-se por completo à obra, cantando com emoção e fazendo as vocalizações deliciosas que só ele sabe. Há ainda backing vocals que só aumentam o nível de insanidade nessa dança inspiradora repetindo "uhhhhhh, my, my, my, my, my". Se em Lose Yourself to Dance, o Daft Punk tenta colocar em música todo o espírito místico e supremo da dança, aqui a ideia é a mesma. A diferença essencial está na parte orgânica da obra dos Stones, composta pela harmonia de uma banda altamente talentosa e, acima de tudo, humana. É possível sentir a vida de Dance em seus defeitos - se é que podemos chamá-los assim. Refiro-me aos gritos não planejados, aos backing vocals não perfeitamente sincronizados e às vocalizações improvisadas de Jagger. É mais ou menos o que fez Brown em Where is Mozes?, deixando a música fluir naturalmente pelo som da banda e pela energia dos ali presentes. Tudo isso torna a canção uma obra única cheia da magia do Rock. Com ela podemos nos visualizar no mesmo estilo de vida da banda: cheio de viagens, carros, romances e muita bebedeira. É possível ouvir e se imaginar num carango com seus amigos descendo a Augusta em direção à alguma casa noturna ou inferninho - todos loucos, bêbados e prontos à curtir o que a vida nos dá de presente, como diria Velhas Virgens. Como eu disse antes, não acredito que seja saudável cultivar esse tipo de vida em excesso, mas garanto que quando a aposentadoria e/ou a idade chegarem nos lembraremos do estilo de vida Rock and Roll com uma saudade boa no olhar e então saberemos que tiramos o melhor dos nossos dias na Terra ;)
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