Sobre sonhos e músicas
Trabalho em outra cidade e levo mais ou menos 1 hora para chegar no escritório e mais 1 hora e meia para voltar. São 2 horas e meia todos os dias. Com a benção dos deuses do Rock não preciso dirigir nesse período e passo a viagem toda do fretado investindo meu tempo em atividades, digamos, mais produtivas como escrever, ler, ouvir música e, principalmente, dormir. É bastante comum dormir enquanto ouço um disco e, ao acordar, perceber que já estou na última faixa do álbum e nem me lembrar de ter percorrido as outras. Por outro lado, há ocasiões raras, porém interessantes em que durmo e a música e o sonho se misturam numa viagem ao subconsciente e aos cantos obscuros do universo. Certa vez isso aconteceu com Serenade do Steve Miller Band. Faz parte do disco "Fly Like an Eagle" de 1976. Segue a letra:
Serenade
(Miller)
Did you see the lights
As they fell all around you
Did you hear the music
Serenade from the stars
Wake up, wake up
Wake up and look around you
We're lost in space
And the time is our own
Whoa, whoa
Iiiiiiiiii
Did you feel the wind
As it blew all around you
Did you feel the love
That was in the air
Wake up, wake up
Wake up and look around you
We're lost in space
And the time is our own
Whoa, whoa
Iiiiiiiiii
The sun comes up
And it shines all around you
You're lost in space
And the earth is your own
Whoa, whoa
Whoa
Dê o play e comece a viagem:
Vamos à andança...
Sempre gostei de Serenade. Nunca a pulei do meu player, como raramente pulo qualquer coisa de Steve Miller Band. Mas era uma canção boa dentro de uma certa normalidade.
Até o dia em que dormi deixando meu "Greatests Hits" rolando. Quando meio que acordei, Serenade estava rolando com seu ritmo hipnótico e eu não soube mais se estava realmente dormindo ou acordado. O ônibus estava mais escuro do que antes, embora o dia já tivesse avançado alguns bons minutos. E o mais curioso é que eu não tinha mais aquela urgência de levantar e ir pro trabalho. Queria ficar ali, semidesperto, curtindo o momento de sonho real com trilha sonora.
A estrada que eu me encontrava foi lentamente subindo, embora se eu bem me lembrava nunca tivesse qualquer inclinação nos dias anteriores. Livre de qualquer obrigação com a física, desta vez, porém, ela subia, subia e se afastava dos prédios e carros, tão ordinários. Agora ela se misturava aos caminhos espaciais entre as estrelas. Em meu ouvido (ou no espaço todo), Miller dizia: "Acorde, acorde e olhe ao redor. Estamos perdidos no espaço e o tempo é nosso".
A todo momento o riff continuava como o galope de um pégaso, leve demais para estar no chão. Envolvente demais para ser pura imaginação. O refrão da obra era ainda mais viajante, apenas um grito de Miller acompanhado de seus backing vocals de outras galáxias.
E eu ia seguindo aquele grito, aquele galope. Nas costas do pégaso eu agora via planetas nascerem e estrelas morrerem. Visitava cenários de ficção científica e as contelações dançavam no ritmo do riff. Anos depois quando aprendi a tocar violão descobri, para minha surpresa, que era um riff simples. 3 acordes bastavam para criar aquela aura mística. Só fiquei ainda mais apaixonado pela música. Afinal, não era preciso tanto para alguém ser capaz de te levar para passear na órbita de plutão. Até eu (dentro de certar limitações, claro) podia fazer aquilo. Era algo completamente humano. Algo possível e verdadeiro. Algo real.
Nunca mais ouvi Serenade da mesma forma. Até hoje quando a escuto tenho vislumbres de cantos diferentes do universo e, se estiver com um poquinho só de sono ou de álcool no sangue, ainda consigo ver o pégaso dançando no ritmo da guitarra de Steve Miller e passeando por aí com seu ar obstinado e com a maior naturalidade do mundo ;)
Trabalho em outra cidade e levo mais ou menos 1 hora para chegar no escritório e mais 1 hora e meia para voltar. São 2 horas e meia todos os dias. Com a benção dos deuses do Rock não preciso dirigir nesse período e passo a viagem toda do fretado investindo meu tempo em atividades, digamos, mais produtivas como escrever, ler, ouvir música e, principalmente, dormir. É bastante comum dormir enquanto ouço um disco e, ao acordar, perceber que já estou na última faixa do álbum e nem me lembrar de ter percorrido as outras. Por outro lado, há ocasiões raras, porém interessantes em que durmo e a música e o sonho se misturam numa viagem ao subconsciente e aos cantos obscuros do universo. Certa vez isso aconteceu com Serenade do Steve Miller Band. Faz parte do disco "Fly Like an Eagle" de 1976. Segue a letra:
Serenade
(Miller)
Did you see the lights
As they fell all around you
Did you hear the music
Serenade from the stars
Wake up, wake up
Wake up and look around you
We're lost in space
And the time is our own
Whoa, whoa
Iiiiiiiiii
Did you feel the wind
As it blew all around you
Did you feel the love
That was in the air
Wake up, wake up
Wake up and look around you
We're lost in space
And the time is our own
Whoa, whoa
Iiiiiiiiii
The sun comes up
And it shines all around you
You're lost in space
And the earth is your own
Whoa, whoa
Whoa
Dê o play e comece a viagem:
Vamos à andança...
Sempre gostei de Serenade. Nunca a pulei do meu player, como raramente pulo qualquer coisa de Steve Miller Band. Mas era uma canção boa dentro de uma certa normalidade.
Até o dia em que dormi deixando meu "Greatests Hits" rolando. Quando meio que acordei, Serenade estava rolando com seu ritmo hipnótico e eu não soube mais se estava realmente dormindo ou acordado. O ônibus estava mais escuro do que antes, embora o dia já tivesse avançado alguns bons minutos. E o mais curioso é que eu não tinha mais aquela urgência de levantar e ir pro trabalho. Queria ficar ali, semidesperto, curtindo o momento de sonho real com trilha sonora.
A estrada que eu me encontrava foi lentamente subindo, embora se eu bem me lembrava nunca tivesse qualquer inclinação nos dias anteriores. Livre de qualquer obrigação com a física, desta vez, porém, ela subia, subia e se afastava dos prédios e carros, tão ordinários. Agora ela se misturava aos caminhos espaciais entre as estrelas. Em meu ouvido (ou no espaço todo), Miller dizia: "Acorde, acorde e olhe ao redor. Estamos perdidos no espaço e o tempo é nosso".
A todo momento o riff continuava como o galope de um pégaso, leve demais para estar no chão. Envolvente demais para ser pura imaginação. O refrão da obra era ainda mais viajante, apenas um grito de Miller acompanhado de seus backing vocals de outras galáxias.
E eu ia seguindo aquele grito, aquele galope. Nas costas do pégaso eu agora via planetas nascerem e estrelas morrerem. Visitava cenários de ficção científica e as contelações dançavam no ritmo do riff. Anos depois quando aprendi a tocar violão descobri, para minha surpresa, que era um riff simples. 3 acordes bastavam para criar aquela aura mística. Só fiquei ainda mais apaixonado pela música. Afinal, não era preciso tanto para alguém ser capaz de te levar para passear na órbita de plutão. Até eu (dentro de certar limitações, claro) podia fazer aquilo. Era algo completamente humano. Algo possível e verdadeiro. Algo real.
Nunca mais ouvi Serenade da mesma forma. Até hoje quando a escuto tenho vislumbres de cantos diferentes do universo e, se estiver com um poquinho só de sono ou de álcool no sangue, ainda consigo ver o pégaso dançando no ritmo da guitarra de Steve Miller e passeando por aí com seu ar obstinado e com a maior naturalidade do mundo ;)
Comentários
PS: Respondendo ao seu comentário naquele post sobre 'Mercury Blues', eu sei como você se sente! As vezes quando estou ouvindo a banda fico morrendo de vontade de comentar com alguém sobre como aquele álbum é um espetáculo, mas como ninguém os conhece, sou "obrigada" a me conter! Dá vontade de pegar todo mundo, trancar numa sala e pegar o "The Joker", o "Fly Like an Eagle" e o "Book of Dreams" (pra começar), botar pra tocar e fazer a galera ouvi-los por inteiro! :P :P :P
Abraços e obrigado pela visita!!