Ah, os anos 90. Heavy Metal. Hard Rock. New Metal. Grunge e... Flash House?

7 Canções quase inesquecíveis da música eletrônica do final do século passado

Sim. Nem só de pancadas na bateria e solos pesados foi feito o anos 90. Se você, como eu, teve a sorte de viver a infância nos anos 90, pode sentir saudades de bandas como Guns N'Roses, Nirvana e Rage Against the Machine. Afinal, foi a época em que o Rock vivia seu último grande momento. Após as loucuras e excentricidades dos anos 80, o Rock havia chegado numa fase mais madura da vida onde começava a refletir mais, questionar mais e criticar mais. Como em todo bom momento do Rock And Roll, bandas como estas acima faziam a cabeça dos jovens e inseriam nelas uma série de atitudes e valores avessos ao padrão.

Smile, um símbolo adequado para um gênero musical acima de tudo alegre


Mas nem só de Rock and Roll viveu uma a última década do milênio passado.

A música eletrônica, uma vertente musical totalmente independente do Rock havia também chegado ao seu auge na década anterior. Algumas bandas, inclusive, começaram um interessante flerte entre Rock e Eletrônico resultando em sonoridades únicas, altamente dançantes e viajantes como Depeche Mode, Duran Duran e New Order.

Mas foi nos anos 90, juntamente com o peso e a raiva do Grunge e do New Metal que o mundo ganhou as cores e a alegria do House, ou mais precisamente, o Flash House, evolução daquele gênero que tornou-se um marco do final do século XX.

Talvez o grande trunfo e também a grande fraqueza do Flash House foi ter sido um gênero musical sem preconceitos. Aberto à praticamente todas as influências - do Rock ao Funk, do Jazz ao Rap - e avesso à qualquer tentativa de controle, o estilo musical atingiu rapidamente um apogeu criativo na Europa e nos Estados Unidos. O preço? Acabou, como tantos artistas da década de 80, preso no tempo. Impossível não ouvir hoje, por exemplo, I Got The Power do Snap ou Gonna Make You Sweat do C&C Music Factory e não lembrar daquela década quando a internet ainda engatinhava e o mundo ainda era pequeno.

Colocando riffs violentos de guitarra lado-a-lado com sintetizadores e batidas pop; vocais de Hip Hop em contraste com um pianinho em Jazz, o Flash House cravou na história uma vertente musical que, embora bastante underground, conseguia mesclar viagem e movimento como poucos.

Everybody Dance Now! C&C Music Factory. Foto: Divulgação

Lembro quando era garoto e saí com meu irmão numa daquelas raras aventuras pelo universo da 25 de Março. Hoje conheço o lugar de ponta a ponta e pouco da sua magia ainda me fascina. Mas nos anos 90 eu era um moleque do ginásio com a mesma experiência com dinheiro quanto eu tinha com garotas: nenhuma. Meu irmão, apenas um ano e meio mais velho, fazia o papel de mentor. Embora quase tão virgem da malandragem urbana quanto eu, mas certamente movido pelo dever para com o irmão protegido, ele passeava com desenvoltura, negociava como macaco velho e me indicava lugares e lojas como se já tivesse passado por ali dezenas de vezes.

Foi numa daquelas travessas abarrotadas de gente que ouvimos um carro com o som cretinamente alto tocando Gonna Make You Sweat. Ouvir aquelas pancadas da guitarra gravíssima e a bateria que quase arrancavam as portas do carro do sujeito me fez sentir algo ainda inédito. Nem Beatles eu conhecia ainda. Percebi com aquela moça que gritava "Everybody Dance Now" que a música tinha poder.

Meu irmão foi até lá conferir o que o cara vendia e, obviamente, se tratavam de CDs piratas (um luxo na época) com os melhores Hits do Flash House. Gastamos parte do nosso parco dinheiro numa cópia. Perdi a conta de quantas vezes ouvi aquele disco. Além da C&C tinha também um tal de Ice MC com a engraçada Cinema, o EMF com gritos e riffs inesquecíveis em Unbelievable, Cover Girls com sua irritantemente boa Show Me e, é claro, Snap com I Got The Power. Era um caso de amor. Eu ouvia, ouvia e ouvia. Até que o CD vagabundo parou de funcionar. Por sorte eu havia memorizado diversas canções e acabei redescobrindo elas no futuro, muito em parte graças à coleção de CDs "Puro Flash House" lançados pela Star Records. Até hoje, porém, há uma ou duas perolas que estavam naquele velho disco verde e que jamais voltei a encontrar.

Em homenagem à esse estilo musical tão cheio de energia, tão vibrante e tão ridiculamente dançante, separei aqui algumas das canções que, muitos anos depois, acabei recuperando e que, quando entram no meu player, demoram a sair.

Dead or Alive - Come Home With me Baby



Difícil ouvir e não ser contaminado com a petulância gostosa do vocalista ao dizer à sua amada (ou amado): "Venha comigo pra casa, baby, você tem muita sorte. Eu estava procurando por alguém e, adivinha?, você tem o corpo que eu quero". Mais à frente o cidadão ainda avisa: "Eu não vou pra casa com qualquer um". Sensacional. Tudo isso ainda vem com um ritmo poderoso, dançante e alegre. No meio da peça um solo frenético de guitarra é capaz de deixar muita banda de Hard Rock no chinelo.

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Sabrina - Boys



Um grande amigo meu, o mestre Vagno, que compartilha comigo do carinho pelo Flash House, certa vez me copiou o clipe desta e de algumas canções num DVD e desde então o Boys tem um lugar especial na minha biblioteca mental. Tenho que admitir que não é por causa dos efeitos pitorescos da época ;)

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Bomb the Bass - Beat This



Beat This é uma canção na qual foi elevado à septuagésima potência o conceito de mistura do Flash House. Em certo momento da canção a gravação de um senhor diz: "Essa é uma viagem pelo som". É isso do que se trata a canção do Bomb the Bass. Não é uma música. É uma viagem. Um workshop. Um mergulho de cabeça no ritmo. Um passeio pelas notas onde é possível ver sons e escutar cheiros. Com um ritmo aceleraodo e quase louco você vai para laboratórios, velho-oeste, florestas e é hipnotizado com um insurdecedor e delicioso despertador! Só ouvindo mesmo para entender...

Ace of Base - All That She Wants



Essa é daquelas grudentas para se ouvir e repetir dezenas de vezes. Você entra no ritmo em segundos e logo já está cantando junto. Uma pérola ;)

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MC Wildski - Warrior



Música para a noite. Seja para uma balada, para um happy hour ou para a simples sobrevivência noturna que costuma ser necessária após uma noite de loucuras. Não por acaso o nome da peça remete ao filmaço Warriors - Selvagens da Noite onde uma gangue de guerreiros tem que sobreviver numa caçada humana. Como diz o cantor: "Sobrevivendo na noite, você é um guerreiro".

Snap - I Got The Power



Essa nem está na minha lista de favoritas, mas sua importância na cultura pop é tão forte que não poderia ficar de fora dessa seleção.

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C&C Music Factory - Gonna Make You Sweat



Duvido você ouvir e não sacudir os ombros, o quadril e gritar com a cantora no refrão que o mundo conhece.

Ouça Gonna Make You Sweat (Everybody Dance Now) no iTunes

Pode ser que o Flash House, diferente de outras vertentes eletrônicas e de todo o Rock, acabou preso no tempo. Se o gênero é hoje visto como algo antigo e datado, cabe a nós, como apreciadores da boa música, relembrar clássicos como esses e valorizar muitas das bandas que somente vieram ao mundo para trazer uma ou duas preciosidades como estas acima;)

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