Red Hot Chili Peppers: Todos os discos comentados e ranqueados do pior ao melhor
Meu Ranking de discos do Red Hot Chili Peppers do pior ao melhor.
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Meu sério problema com O Último Reino (Crônicas Saxônicas)
Atualmente na quarta temporada (e com a quinta já confirmada), você talvez já tenha assistido ou pelo menos ouvido falar na série O Último Reino (The Last Kingdom).
E o pior: eu trouxe a mesma sensação para a série. Assisto cada temporada inteira e, semanas depois, já não lembro do que vi.
Caso contrário você pode acabar como eu. Um leitor aprisionado em uma história que não consegue acompanhar.
A série conta a história de Uthred, filho de Uthred - como ele bem gosta de frisar - em sua jornada para reconquistar a fortaleza de Bebbanburg, usurpada por seu tio depois da morte de seu pai. A narrativa é banhada em fatos históricos e cobre boa parte do reinado de Alfredo, o Grande, um dos reis mais notórios da história da Inglaterra. Com ambientação medieval e trama que mistura aventura com política, a série certamente encontrou o caminho do coração de quem aprecia um bom épico, ao estilo de Vikings e Game of Thrones, trazendo muito da fotografia do primeiro e um pouco dos jogos de poder do segundo.
Entretanto, há um certo problema com a aventura de Uthred que não me deixa gostar dela tanto quanto eu gostaria normalmente de qualquer obra épica.
Eu simplesmente não consigo guardar a história na cabeça.
Pergunte-me o que aconteceu na primeira temporada. Não sei.
Na segunda? Nem ideia.
Terceira? Nada.
Simplesmente não guardo a história. Não sei o que acontece, mas acho que sei onde o problema começa.
11 Livros e Contando
O Último Reino é a adaptação literária de Crônicas Saxônicas, uma série de livros escrita por Bernard Cornwell que já está em seu décimo primeiro volume. Eu já o li e não traz o fim da história. Nele Uthred, já um senhor com uma idade considerável, principalmente para um soldado da Idade Média, continua lutando contra os nórdicos que teimam em invadir a Inglaterra mesmo após sucessivas derrotas.
Bernard Cornwell é um dos meus escritores favoritos e, certamente, o que eu mais li na vida. É dele a minha versão preferida do Rei Artur, na trilogia Crônicas de Artur e é dele outra excelente trilogia medieval: A Busca do Graal, além de uma porção de outras aventuras épicas. O cara escreve de um jeito ligeiro e empolgante e sabe te transportar para uma batalha como ninguém. Lendo suas páginas, é quase possível ouvir as flechas voando ao redor e sentir o cheiro das tripas arrancadas de algum coitado recém empalado.
Seus livros são bem escritos, equilibrados e o seu toque de mestre é o embasamento histórico. Ao final de cada exemplar o autor apresenta uma Nota Histórica, talvez um dos melhores momentos de cada livro onde você pode conferir o que é real e o que foi criado. Ou o que foi criado em cima de um fato meramente superficial. E o cara é um pesquisador ferrenho. Menciona poemas do século 5 e mapas desenhados por druidas como fonte de informação. Incrível.
Mas, diferente do que acontece com as Trilogias de Artur e do Graal, a história de Uthred não permanece na minha cabeça por muito tempo. Guardo alguns fatos chave, mas não em detalhes como faço com as grandes histórias. E acredito que isso seja culpa do grande número de volumes na coleção.
Desde o 4 ou 5 livro (não me pergunte qual exatamente, eu não sei), a história passa a ser muito repetitiva. Sempre começamos os livros com um Uthred em algum canto da Inglaterra, provavelmente em uma pequena guerra. Até que ele resolve ir para casa, mas no caminho descobre alguma trama de algum líder nórdico para tomar Wessex, o principal reino da época e a quem ele tem o destino interligado por conta de sua relação de admiração-e-ódio com Alfredo.
É sempre assim. A mesma estrutura. O pior é que, ao final de cada livro, Uthred vence o tão perigoso líder nórdico, mas quando começamos o próximo volume há outro desgraçado no lugar. Parece que os invasores ficavam apostando quem ia conseguir vencer Wessex sozinho ao invés de se unirem.
Sim, eu sei que são fatos históricos. E Cornwell escreve bem demais a ponto de eu continuar comprando os livros. É sempre uma leitura agradável e rápida que fazem as 300 e poucas páginas passarem voando.
Mas a estrutura já me cansou. A ponto de que quando estou lendo um novo volume (eles saem a cada 2 ou 3 anos mais ou menos), eu já nem lembro o que havia acontecido no anterior. É comum o novo Uthred comentar como ele sente falta de tal personagem que morreu e eu me perguntar: "morreu? quando? onde?". Em certo ponto (talvez no livro 8 ou 9), Uthred briga de forma severa com seu filho por ele ter decidido virar padre. Li aquilo e falei: "de onde saiu isso?"
A história se repetiu tanto que eu já não guardo mais suas sutilezas na memória. Fica apenas um resumo bem superficial em meu cérebro entediado.
E o pior: eu trouxe a mesma sensação para a série. Assisto cada temporada inteira e, semanas depois, já não lembro do que vi.
Caso você me pergunte: vale a pena assistir ou ler. Minha resposta: sim, mas faça tudo de uma vez. Espere a série acabar e maratone tudo. Espere os livros acabarem e leia tudo na sequência.
Caso contrário você pode acabar como eu. Um leitor aprisionado em uma história que não consegue acompanhar.
Pra não ficar sem música:
Um novo prazer: Ler e Ouvir O Senhor dos Anéis
Há alguns meses assisti, talvez pela décima vez, a trilogia O Senhor dos Anéis.
Tirei então meu exemplar de 2002 da prateleira. Aquele com a capa ilustrada do Gandalf, quando o filme ainda nem tinha saído do papel. As páginas levemente amareladas só davam ainda mais charme para o livro.
Sou grande fã da obra de J. R. R. Tolkien e tenho um carinho especial por esses filmes. Não apenas gosto da história ou dos personagens, mas me sinto realmente como um integrante da Terra Média quando o primeiro (e melhor, na minha opinião) filme começa.
Logo nos primeiros minutos, quando o velho Gandalf chega no Condado e encontra Frodo eu já quase consigo tocar as plantações de abóboras e sentir os pés na grama daquele lugar especial tão aconchegante.
Eu poderia citar dezenas de motivos pelos quais amo essa história. Poderia mencionar meu gosto pelo medievalismo e por jogos de RPG, poderia lembrar que li os livros pela primeira vez com uns 15 anos e pela segunda vez com 17. Poderia discorrer sobre minha visita à Nova Zelândia, onde eu procurei vários dos cenários usados no filme. Poderia passar horas engrandecendo essa obra e dizendo o quanto sou grato à ela por ela ter permitido deixar minha imaginação voar e aflorar. Mas para não deixar o texto longo e enfadonho, vou apenas relembrar que, das poucas vezes em que chorei depois de adulto, uma delas foi vendo As Duas Torres.
"Você não chorou no nosso casamento, mas chorou quando o Rei Theoden lamentou a morte do filho", minha esposa gosta de provocar. Eu dou aquele sorriso amarelo e fico sem resposta. É verdade, afinal.
O Rei Theoden chorou e eu chorei com ele. 3 lágrimas. Consegui contar.
Nessa última visita à Terra dos Hobbits, Elfos, Anões e Humanos decidi que queria ler os livros mais uma vez. Já fazia mais de 10 anos, afinal. Por que não mergulhar novamente na aventura literária que deu origem aos filmes que eu tanto aprecio?
Tirei então meu exemplar de 2002 da prateleira. Aquele com a capa ilustrada do Gandalf, quando o filme ainda nem tinha saído do papel. As páginas levemente amareladas só davam ainda mais charme para o livro.
Comecei a ler.
Agora, porém, o mundo era outro. Distante e diferente daquele 2004, quando eu havia deixado aquelas páginas de Tolkien pela última vez.
Agora o mundo tinha internet de alta velocidade e de forma constante. Praticamente como água encanada.
Agora o mundo tinha músicas à vontade em qualquer lugar, sem a necessidade de comprar discos ou aparelhos para reproduzi-los.
E assim descobri uma nova experiência: ler O Senhor dos Anéis e ouvir O Senhor dos Anéis. Como? Com essa ambientação criada pelo canal Ambient Worlds. O produtor dos vídeos, provavelmente tão medievalista quanto eu, pega as canções de filmes e games de fantasia e cria uma versão mais longa que ele mescla com delicadeza à sons ambientes de natureza, chuva, vento e por aí vai. A imersão fica ainda maior.
Gosto tanto dos vídeos desse canal que já se tornou um costume aqui em casa deixarmos uma das canções rolando enquanto tomamos café ou conversamos. É relaxante e inspirador.
Confesso que ler os livros de Tolkien com a trilha sonora estendida do Condado ao fundo tornou-se um novo prazer da vida. Daqueles mais simples e, portanto, mais especiais. Sempre que posso agora eu pego meu livro, sento na poltrona e deixo a trilha sonora magistral de Howard Shore complementar minha aventura ao lado de Gandalf, Aragorn, Frodo e meus outros heróis.
Não dá para ouvir e não se sentir acolhido pela alegria contagiante e pela ingenuidade bonita do povo do Condado. Experimente!
Alivie as preocupações com Blues Etílicos
Para quem tem o espírito colecionador, plataformas como Spotify e Deezer trazem um novo prazer que, se não substitui por completo, ao menos alivia a ausência do antigo hábito de buscar discos pelas lojas hoje extintas: a criação de playlists.
A possibilidade e agrupar, organizar e classificar as canções favoritas oferece não apenas a certeza de uma boa audição, mas também ajuda a descobrir bandas e canções novas, como comentei nesse post do Gustavo Andrade.
Foi degustando esse novo hobbie que criei playlists que tocam semanalmente no meu player: Hard Rock B-Sides, com todas canções pesadas oitentistas que eu gosto e que não fizeram o mesmo sucesso (e também por isso não me enjoaram tanto como) os super-hits; Electro Swing, com várias canções desse novo gênero que mistura a maestria do jazz com o impulso eletrônico; Coletânea Oasis Studio, copiando música a música um CD gravado por um amigo na adolescência que me fez gostar demais da banda inglesa.
E por aí vai...
Uma das listas que criei compila as músicas que mais tenho apreciado dentro do cenário do Blues Nacional.
Recentemente, enquanto fazia uma nova curadoria na lista, encontrei essa canção do Blues Etílicos que eu ainda não conhecia. É do ótimo disco "Puro Malte".
Como normalmente ocorre com as Grandes Músicas dos Deuses, eu fui inicialmente bombardeado com frases interessantes e um ritmo energizante que me fizeram querer ouvir a canção de novo, dessa vez prestando atenção na letra.
Foi então que descobri uma música realmente boa. Daquelas sábias. Com palavras bonitas e de grande valor ao ouvinte. Esse tipo de canção é raro, mas quando a encontramos, tudo vale a pena, pois elas nos enchem de alegria e vontade de viver.
A lição ensinada aqui é a de abraçar o desconhecido. Não temer as mudanças. Saber desfrutar as novidades que a vida nos proporciona.
Saia da Rota traz aquele ritmo bluseiro impecável costumeiramente executado pelo grupo brasileiro. Há talvez um diferencial no groove, gerando uma melodia contagiante, positiva, como justamente a poesia precisa.
Na letra, o narrador conta como percebeu um "desvio na estrada" que o levou por um "lugar novo que eu não esperava". E em versos rápidos e certeiros ele descreve uma série de atividades que podem nos proporcionar um novo descobrimento pessoal:
Claro que o momento atual de confinamento e isolamento social não nos permite adentrar em algumas dessas experiências, mas podemos interiorizar o ensinamento para questões mais pessoais como a mudança de um emprego, o fim ou início de um relacionamento, ter um filho, ou um cachorro, enfim. A lição que fica é essa: não se fechar para os novos ventos.
Escute aqui:
A possibilidade e agrupar, organizar e classificar as canções favoritas oferece não apenas a certeza de uma boa audição, mas também ajuda a descobrir bandas e canções novas, como comentei nesse post do Gustavo Andrade.
Foi degustando esse novo hobbie que criei playlists que tocam semanalmente no meu player: Hard Rock B-Sides, com todas canções pesadas oitentistas que eu gosto e que não fizeram o mesmo sucesso (e também por isso não me enjoaram tanto como) os super-hits; Electro Swing, com várias canções desse novo gênero que mistura a maestria do jazz com o impulso eletrônico; Coletânea Oasis Studio, copiando música a música um CD gravado por um amigo na adolescência que me fez gostar demais da banda inglesa.
E por aí vai...
Uma das listas que criei compila as músicas que mais tenho apreciado dentro do cenário do Blues Nacional.
Recentemente, enquanto fazia uma nova curadoria na lista, encontrei essa canção do Blues Etílicos que eu ainda não conhecia. É do ótimo disco "Puro Malte".
Como normalmente ocorre com as Grandes Músicas dos Deuses, eu fui inicialmente bombardeado com frases interessantes e um ritmo energizante que me fizeram querer ouvir a canção de novo, dessa vez prestando atenção na letra.
Foi então que descobri uma música realmente boa. Daquelas sábias. Com palavras bonitas e de grande valor ao ouvinte. Esse tipo de canção é raro, mas quando a encontramos, tudo vale a pena, pois elas nos enchem de alegria e vontade de viver.
A lição ensinada aqui é a de abraçar o desconhecido. Não temer as mudanças. Saber desfrutar as novidades que a vida nos proporciona.
Saia da Rota traz aquele ritmo bluseiro impecável costumeiramente executado pelo grupo brasileiro. Há talvez um diferencial no groove, gerando uma melodia contagiante, positiva, como justamente a poesia precisa.
Na letra, o narrador conta como percebeu um "desvio na estrada" que o levou por um "lugar novo que eu não esperava". E em versos rápidos e certeiros ele descreve uma série de atividades que podem nos proporcionar um novo descobrimento pessoal:
A caminhar domingo com as paineirasSão ações ora banais, ora aventureiras, mas todas trazem aquele desafio de sair da zona de conforto, mas que nos trazem tanto aprendizado e emoções únicas.
Abrir o apetite com Santa Teresa
Fazer um piquenique no meio do mato
Jogar fora o relógio, nadar pelado
Pular de asa-delta na Pedra Bonita
Saltar de paraquedas uma vez na vida
Claro que o momento atual de confinamento e isolamento social não nos permite adentrar em algumas dessas experiências, mas podemos interiorizar o ensinamento para questões mais pessoais como a mudança de um emprego, o fim ou início de um relacionamento, ter um filho, ou um cachorro, enfim. A lição que fica é essa: não se fechar para os novos ventos.
Escute aqui:
O humor e a filosofia Beatnik de Porcas Borboletas
Quando terminei meu segundo livro, Meditando no Banheiro, e pedi para o mestre chargista Márcio Baraldi escrever um prefácio para apresentar o livro, me surpreendi com um texto em que ele chamava de "O Último Beatnik".
A surpresa se deu por que eu não imaginava que minha escrita soaria tão facilmente Beatnik.
Foi uma boa surpresa.
Um elogio, assim eu entendi. Fiquei orgulhoso, devo admitir.
Os Beatniks foram artistas da década de 50, criadores de um estilo de vida inspirado na liberdade, na amizade e no questionamento. Mais ou menos como os Hippies viriam a fazer posteriormente. Nomes Beat famosos são Jack Kerouac, Charles Bukowski e William S. Burroughs.
Como ser associado à nomes grandiosos como esses pode não ser um elogio? Escritores Beat foram (e continuam sendo) inspiração para meus textos.
Creio que o que mais me chamou a atenção em livros como On The Road, de Jack Kerouacc, foi a liberdade. O desejo de viver a vida, sem regras, sem amarras.
Não há preconceito em uma história Beat. Tudo é permitido e tudo é perdoável, desde que feito com emoção.
É o que viria a ser a essência do espírito Rock'n'Roll.
"Curtindo o que a vida me dá de presente", como sintetizaria tão bem, décadas depois, as Velhas Virgens, outros ícones da cultura (ou contracultura) Beat.
E há alguns anos conheci uma outra banda que compartilha dessa mesma essência e, não por acaso, acabei viajando completamente no som deles: Porcas Borboletas.
Não trazem consigo a mesma alegria pulsante das Velhas, mas encontraram o caminho para a música dos deuses com outro tipo de humor: o autodepreciativo. Dessa forma a banda entrelaça um trabalho instrumental de primeira com letras que versam sobre conquistas amorosas mal sucedidas, deficiências físicas do narrador, desilusões com projetos pessoais e muito mais.
Tudo com um estranho e poderoso carisma na voz do vocalista Danislau.
Quem viveu a vida minimamente não vai conseguir deixar de sentir empatia em versos como:
Ou:
É aquele pensamento que só os mais sábios conseguem incorporar: se não der certo, afinal, pelo menos a gente tomou umas cervejas e deu risada.
Após aprisionar o ouvinte com o clima sereno e misterioso, o grupo está livre para explodir. É quando a canção vira um Rock vigoroso. Os versos se repetem, mas paixão pela Aninha se torna visceral, obsessiva.
Não há conclusão para a história, mas isso não a torna menos perfeita.
Ao contrário, é justamente por esse olhar distante que a obra ganha importância.
Trata-se, afinal, de apenas uma constatação. Um devaneio, como em Heaven dos Rolling Stones ou Cheap Day Return do Jethro Tull. Um momento de delírio no qual o narrador, como nós, é impotente. Como a maioria dos eventos de nossas vidas, não há muito o que fazer. Apenas aceitar e admirar.
Confira Aninha:
A surpresa se deu por que eu não imaginava que minha escrita soaria tão facilmente Beatnik.
Foi uma boa surpresa.
Um elogio, assim eu entendi. Fiquei orgulhoso, devo admitir.
Os Beatniks foram artistas da década de 50, criadores de um estilo de vida inspirado na liberdade, na amizade e no questionamento. Mais ou menos como os Hippies viriam a fazer posteriormente. Nomes Beat famosos são Jack Kerouac, Charles Bukowski e William S. Burroughs.
Como ser associado à nomes grandiosos como esses pode não ser um elogio? Escritores Beat foram (e continuam sendo) inspiração para meus textos.
Banda Porcas Borboletas: muito humor e força musical em versos Beat
Creio que o que mais me chamou a atenção em livros como On The Road, de Jack Kerouacc, foi a liberdade. O desejo de viver a vida, sem regras, sem amarras.
Não há preconceito em uma história Beat. Tudo é permitido e tudo é perdoável, desde que feito com emoção.
É o que viria a ser a essência do espírito Rock'n'Roll.
"Curtindo o que a vida me dá de presente", como sintetizaria tão bem, décadas depois, as Velhas Virgens, outros ícones da cultura (ou contracultura) Beat.
E há alguns anos conheci uma outra banda que compartilha dessa mesma essência e, não por acaso, acabei viajando completamente no som deles: Porcas Borboletas.
Não trazem consigo a mesma alegria pulsante das Velhas, mas encontraram o caminho para a música dos deuses com outro tipo de humor: o autodepreciativo. Dessa forma a banda entrelaça um trabalho instrumental de primeira com letras que versam sobre conquistas amorosas mal sucedidas, deficiências físicas do narrador, desilusões com projetos pessoais e muito mais.
Tudo com um estranho e poderoso carisma na voz do vocalista Danislau.
Quem viveu a vida minimamente não vai conseguir deixar de sentir empatia em versos como:
Todo mundo está pensando em Sexo.
Todo mundo disfarçando muito bem.
Será que só você não? Será que só você não?
Meu bem...
Ou:
Tudo que eu tentei falhou:
Sapatênis, bandana, sunga dos states, suspensório
Relacionamento aberto, fechado, ménage à trois, suruba psicodélica
Abstinência do uso de drogas seguido da suspensão da abstinência
Paraíso, purgatório, inferno, rua augusta
É necessária uma rara habilidade para rir dos próprios problemas.
Enquanto a maioria das pessoas acaba sucumbindo às pressões e as derrotas, Porcas Borboletas faz música. Eles riem do destino. Sabem que não é preciso levar tudo à sério e que, por mais difíceis que sejam nossos desafios, tudo fica mais fácil com amigos em uma mesa de bar.
É aquele pensamento que só os mais sábios conseguem incorporar: se não der certo, afinal, pelo menos a gente tomou umas cervejas e deu risada.
Embora a filosofia Beat fique evidente em canções como Derrota Transcedental, Você Mentiu, Ejaculação Precoce e nas já citadas, é em Aninha, uma canção mais simples e intimista, que o grupo atinge o ápice da viagem musical.
Acompanhando um poema ligeiro que descreve com delicadeza a Aninha do título, a guitarra cria um ambiente profundo e envolvente. As cordas hipnotizam e os versos saem com brisa:
Greta garbo
The pin-up's dreams
The fifties
Tudo existiu
Pra vestir aninha
Após aprisionar o ouvinte com o clima sereno e misterioso, o grupo está livre para explodir. É quando a canção vira um Rock vigoroso. Os versos se repetem, mas paixão pela Aninha se torna visceral, obsessiva.
Não há conclusão para a história, mas isso não a torna menos perfeita.
Ao contrário, é justamente por esse olhar distante que a obra ganha importância.
Trata-se, afinal, de apenas uma constatação. Um devaneio, como em Heaven dos Rolling Stones ou Cheap Day Return do Jethro Tull. Um momento de delírio no qual o narrador, como nós, é impotente. Como a maioria dos eventos de nossas vidas, não há muito o que fazer. Apenas aceitar e admirar.
Confira Aninha:
Associação Livre Invisível: ritmo, amizade, fotografias e protesto
Depois dessa ausência de quase 2 anos aqui no blog, não estranhe, amigo leitor, se eu precisar colocar alguns assuntos em dia.
Não pense que não ouvi e não conheci diversas canções incríveis nesse meio tempo.
Claro que não.
Apenas não escrevi sobre, mas a música boa continuou pulsando dia após dia nos meus ouvidos e coração e me lembrando do quão boa é a vida.
E uma das bandas que acabei me envolvendo até mais do que o normal é a Associação Livre Invisível.
Isso por que sou amigo de infância do guitarrista Cássio Cordeiro.
Não escondo o orgulho de dizer que o conheço há uns 20 anos.
Você pode dizer isso de algum amigo? 20 anos? Tudo bem, que sejam 10... Pode dizer?
Se pode, deve se orgulhar disso também.
Já ouvi de um punhado de pessoas que não é fácil fazer amigos. Mais difícil ainda seria mantê-los.
Entendo o que dizem. Mas, por algum motivo, fui agraciado pelos céus no campo da amizade. Precisaria de mais do que as duas mãos para numerar meus amigos de longa data. E o Cássio é um deles. Um dos mais antigos.
Eu estava lá quando ele ganhou sua primeira guitarra. "Tipo a do George Harrison", ele dizia, orgulhoso. Devia ter uns 12 anos.
Na época eu tinha ganhado uma gaita dos meus pais e assoprava canções fáceis dos Beatles. Nos reuníamos na quadra do prédio para tentar tocar alguma coisa. Não saía nada. As que eu sabia na gaita, ele não sabia os acordes. As que ele conhecia na guitarra eram difíceis demais para eu tocar.
Mas a gente ria. Isso que importa.
Com o tempo, Cássio foi se envolvendo cada vez mais com a música e eu com comunicação e design. Seguíamos nos encontrando ocasionalmente para aquele bom papo e, após uma certa idade, aquela boa cerveja. Foi nesse meio tempo que aconteceu uma das histórias mais divertidas do livro Meditando no Banheiro.
Eu estava lá também, anos depois, quando ele encontrou seu mestre pela primeira vez. Estávamos no Manifesto Bar para curtir um show cover do Deep Purple. O guitarrista era um monstro virtuoso chamado Fernando Piu que certamente não ficava devendo em nada para Ritchie Blackmore.
Cássio viu ele no palco e disse: "Quero ter aula com ele".
O cara solava na Pictures of Home e mesclava a microfonia das caixas de som com as notas que fazia com rapidez e precisão, parecendo colher com as mãos as notas que queria no ar. Era realmente impressionante.
- Você nem sabe se ele dá aula - respondi - mas o cara é bom mesmo.
O show acabou e Cássio falou com ele. Se tornou aluno dele. E, com os anos, virou outro monstro virtuoso.
Vi shows do Cássio com diversas bandas nos mais variados Rock Bares de São Paulo. Alguns já nem existem mais.
Há alguns anos, porém, ele me contou, em uma mesa de bar, que estava em uma banda grande. Coisa fina, profissional. Uma Big Band, com metais, percussão e tudo o mais. Estavam gravando um disco, ele disse.
Nessa época eu estava trabalhando com fotógrafo de eventos. Me ofereci para fotografar o show de estréia da banda.
Foi assim que conheci a Associação Livre Invisível.
Que o Cássio era um guitarrista astuto e inspirado eu já sabia. O que eu não sabia é que ele estava agora num time de mestres. A Associação faz um som que bebe do Soul, do Rock, do Hip Hop e de uma outra infinidade de sons brasileiros e latinos. Um trio de metais faz acompanhamentos e solos incríveis nas canções com balanço ora puramente agradável, ora altamente viajantes.
O trabalho do vocalista Didi Monteiro, que também assina as letras do grupo, é outro ponto de destaque. Sua presença de palco é marcante e a técnica vocal ajuda a conduzir com maestria o som recheado do conjunto.
O primeiro show que fotografei deles foi no Sesc Belenzinho, em São Paulo, no lançamento do seu primeiro disco, "Trânsito", de 2019.
O disco é explosivo e instigante. Logo que o grupo começou as primeiras notas eu soube que estava diante de algo grandioso. Uma explosão violenta de energia dominou o auditório do Sesc. Impossível não se contagiar. Eu queria fotografar, mas ficou difícil me concentrar nas lentes, luzes e configurações. Era muita pulsação. Muita felicidade transbordante.
A harmonia da banda é surpreendente e os duetos entre a guitarra e os metais são arrepiantes com destaque para as canções As Chaves (ouça no player acima), Atitude Suspeita e Vade Retro Baby (player abaixo).
O álbum conta com a participação especial da cantora Kimani, e Danislau da banda Porcas Borboletas (que aparecerá por aqui em breve).
Voltei a fotografá-los em um show na Casa de Cultura Chico Science, no Sacomã, em São Paulo, em que eles tocaram Da Lama Ao Caos na íntegra, além de outros hits da lendária banda Chico Science e Nação Zumbi. Sou fanático pelos 2 discos lançados pelo grupo pernambucano e a execução foi tão poderosa que eu me peguei o evento inteiro fotografando e cantando junto todas as músicas.
E o evento mais recente que pude captar com minhas lentes foi o lançamento do 2º disco da Associação, em fevereiro de 2020, dessa vez no palco icônico do Centro Cultural São Paulo, que já serviu de cenário para apresentações dos mais lendários nomes da música brasileira. Foi lá que eu conferi esse show do Made in Brazil.
"Avisos Luminosos" chegou embalado no seu antecessor com a mesma pegada poderosa e ritmo delirante, porém com um novo e importante ingrediente: a crítica pesada ao Governo Bolsonaro.
Não são poucas as alusões ao presidente nos versos. "Arminha na mão, tiro no pé" e "É um falso messias" são exemplos na canção Fim da Porra Toda. A banda ainda abriu o show com uma compilação de frases assombrosas do governante. Não deve ter sido difícil recolher as frases, já que o ocupante do Planalto filtra muito pouco o que passa em sua cabeça, mas o trabalho vale a pena para escancarar o quão estamos desprovidos de um representando com o mínimo de respeito e dignidade.
Kamasutra Alquimista (ouça abaixo), a abertura do disco, começa com um groove envolvente, que se mantém em Gritos, Revolta e Coragem. Harmonia é a palavra-chave. Outro destaque, Hildegard Sampaio Seixas joga os holofotes para o preconceito contra os transsexuais e conta com a participação emocionante de Verônica Valentino.
O final do disco vem com um apoteótico trabalho instrumental após Didi Monteiro anunciar o apocalipse em um monólogo assustador, chamado simplesmente de Anúncio.
Trata-se de um disco rápido, potente e, acima de tudo contundente. A música sempre foi um dos muitos caminhos para o protesto pacífico e a expressão de ideias opostas ao que é considerado como padrão. Quando o protesto é feito com maestria musical e um ritmo empolgante, está montada a combinação perfeita e que cai como uma luva para o momento político atual.
Gritos de alerta não costumam ser agradáveis de ouvir. "Avisos Luminosos" é exceção à regra.
Ouça Kamasutra Alquimista:
Ouça Vade Retro Baby:
Não pense que não ouvi e não conheci diversas canções incríveis nesse meio tempo.
Claro que não.
Apenas não escrevi sobre, mas a música boa continuou pulsando dia após dia nos meus ouvidos e coração e me lembrando do quão boa é a vida.
E uma das bandas que acabei me envolvendo até mais do que o normal é a Associação Livre Invisível.
Isso por que sou amigo de infância do guitarrista Cássio Cordeiro.
Não escondo o orgulho de dizer que o conheço há uns 20 anos.
Você pode dizer isso de algum amigo? 20 anos? Tudo bem, que sejam 10... Pode dizer?
Se pode, deve se orgulhar disso também.
Já ouvi de um punhado de pessoas que não é fácil fazer amigos. Mais difícil ainda seria mantê-los.
Entendo o que dizem. Mas, por algum motivo, fui agraciado pelos céus no campo da amizade. Precisaria de mais do que as duas mãos para numerar meus amigos de longa data. E o Cássio é um deles. Um dos mais antigos.
Eu estava lá quando ele ganhou sua primeira guitarra. "Tipo a do George Harrison", ele dizia, orgulhoso. Devia ter uns 12 anos.
Na época eu tinha ganhado uma gaita dos meus pais e assoprava canções fáceis dos Beatles. Nos reuníamos na quadra do prédio para tentar tocar alguma coisa. Não saía nada. As que eu sabia na gaita, ele não sabia os acordes. As que ele conhecia na guitarra eram difíceis demais para eu tocar.
Mas a gente ria. Isso que importa.
Com o tempo, Cássio foi se envolvendo cada vez mais com a música e eu com comunicação e design. Seguíamos nos encontrando ocasionalmente para aquele bom papo e, após uma certa idade, aquela boa cerveja. Foi nesse meio tempo que aconteceu uma das histórias mais divertidas do livro Meditando no Banheiro.
Eu estava lá também, anos depois, quando ele encontrou seu mestre pela primeira vez. Estávamos no Manifesto Bar para curtir um show cover do Deep Purple. O guitarrista era um monstro virtuoso chamado Fernando Piu que certamente não ficava devendo em nada para Ritchie Blackmore.
Cássio viu ele no palco e disse: "Quero ter aula com ele".
Cássio Cordeiro, com a Associação Livre Invisível, em 2019. Foto: Felipe Andarilho.
O cara solava na Pictures of Home e mesclava a microfonia das caixas de som com as notas que fazia com rapidez e precisão, parecendo colher com as mãos as notas que queria no ar. Era realmente impressionante.
- Você nem sabe se ele dá aula - respondi - mas o cara é bom mesmo.
O show acabou e Cássio falou com ele. Se tornou aluno dele. E, com os anos, virou outro monstro virtuoso.
Vi shows do Cássio com diversas bandas nos mais variados Rock Bares de São Paulo. Alguns já nem existem mais.
Há alguns anos, porém, ele me contou, em uma mesa de bar, que estava em uma banda grande. Coisa fina, profissional. Uma Big Band, com metais, percussão e tudo o mais. Estavam gravando um disco, ele disse.
Nessa época eu estava trabalhando com fotógrafo de eventos. Me ofereci para fotografar o show de estréia da banda.
Foi assim que conheci a Associação Livre Invisível.
Que o Cássio era um guitarrista astuto e inspirado eu já sabia. O que eu não sabia é que ele estava agora num time de mestres. A Associação faz um som que bebe do Soul, do Rock, do Hip Hop e de uma outra infinidade de sons brasileiros e latinos. Um trio de metais faz acompanhamentos e solos incríveis nas canções com balanço ora puramente agradável, ora altamente viajantes.
O trabalho do vocalista Didi Monteiro, que também assina as letras do grupo, é outro ponto de destaque. Sua presença de palco é marcante e a técnica vocal ajuda a conduzir com maestria o som recheado do conjunto.
O primeiro show que fotografei deles foi no Sesc Belenzinho, em São Paulo, no lançamento do seu primeiro disco, "Trânsito", de 2019.
Associação Livre Invisível, no Sesc Belenzinho, em 2019. Foto: Felipe Andarilho.
O disco é explosivo e instigante. Logo que o grupo começou as primeiras notas eu soube que estava diante de algo grandioso. Uma explosão violenta de energia dominou o auditório do Sesc. Impossível não se contagiar. Eu queria fotografar, mas ficou difícil me concentrar nas lentes, luzes e configurações. Era muita pulsação. Muita felicidade transbordante.
A harmonia da banda é surpreendente e os duetos entre a guitarra e os metais são arrepiantes com destaque para as canções As Chaves (ouça no player acima), Atitude Suspeita e Vade Retro Baby (player abaixo).
O álbum conta com a participação especial da cantora Kimani, e Danislau da banda Porcas Borboletas (que aparecerá por aqui em breve).
Voltei a fotografá-los em um show na Casa de Cultura Chico Science, no Sacomã, em São Paulo, em que eles tocaram Da Lama Ao Caos na íntegra, além de outros hits da lendária banda Chico Science e Nação Zumbi. Sou fanático pelos 2 discos lançados pelo grupo pernambucano e a execução foi tão poderosa que eu me peguei o evento inteiro fotografando e cantando junto todas as músicas.
Associação Livre Invisível, na Casa de Cultura Chico Science, em 2019. Foto: Felipe Andarilho.
E o evento mais recente que pude captar com minhas lentes foi o lançamento do 2º disco da Associação, em fevereiro de 2020, dessa vez no palco icônico do Centro Cultural São Paulo, que já serviu de cenário para apresentações dos mais lendários nomes da música brasileira. Foi lá que eu conferi esse show do Made in Brazil.
"Avisos Luminosos" chegou embalado no seu antecessor com a mesma pegada poderosa e ritmo delirante, porém com um novo e importante ingrediente: a crítica pesada ao Governo Bolsonaro.
Associação Livre Invisível, no CCSP, em 2020. Foto: Felipe Andarilho.
Não são poucas as alusões ao presidente nos versos. "Arminha na mão, tiro no pé" e "É um falso messias" são exemplos na canção Fim da Porra Toda. A banda ainda abriu o show com uma compilação de frases assombrosas do governante. Não deve ter sido difícil recolher as frases, já que o ocupante do Planalto filtra muito pouco o que passa em sua cabeça, mas o trabalho vale a pena para escancarar o quão estamos desprovidos de um representando com o mínimo de respeito e dignidade.
Kamasutra Alquimista (ouça abaixo), a abertura do disco, começa com um groove envolvente, que se mantém em Gritos, Revolta e Coragem. Harmonia é a palavra-chave. Outro destaque, Hildegard Sampaio Seixas joga os holofotes para o preconceito contra os transsexuais e conta com a participação emocionante de Verônica Valentino.
O final do disco vem com um apoteótico trabalho instrumental após Didi Monteiro anunciar o apocalipse em um monólogo assustador, chamado simplesmente de Anúncio.
Trata-se de um disco rápido, potente e, acima de tudo contundente. A música sempre foi um dos muitos caminhos para o protesto pacífico e a expressão de ideias opostas ao que é considerado como padrão. Quando o protesto é feito com maestria musical e um ritmo empolgante, está montada a combinação perfeita e que cai como uma luva para o momento político atual.
Gritos de alerta não costumam ser agradáveis de ouvir. "Avisos Luminosos" é exceção à regra.
Ouça Kamasutra Alquimista:
Ouça Vade Retro Baby:
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