Blues dos Infernos!

Um guitarrista e uma feiticeira

Quando eu estava achando que tinha ouvido Fernando Noronha & Black Soul demais, aparecem 2 CD destruidores deles no meu caminho. Esse aqui no caso, veio através do meu primo e colaborador do último especial. Algumas músicas estão literalmente me viciando, sendo necessária uma dose diária delas pra que eu tenha um dia completo. É o caso da "Blues From Hell", retirada do CD homônimo, de 2001. Segue a letra:




Blues From Hell
(Noronha)

I'm going down to the river
Just me and my guitar
I'm going down to the river
Just me and my guitar

I got to have some inspiration
Which I haven't found so far

I gonna drink that Muddy Waters
Get me a mojo too
I gonna drink that Muddy Waters
Get me a mojo too

Whatever it takes, pretty baby
So I can play this blues for you

I'm going down to the voodoo ladie
To cast me a spell
I'm going down to the voodoo ladie
To cast me a spell

I'd even sell my soul
So I can play this blues from hell

Vamos à andança...

Por que o blues do inferno está dominando meu player? O próprio Noronha explica nessa letra: "Vou atrás da Senhora do Voodoo, pra me lançar um feitiço. Eu mesmo vendi minha alma, então eu posso tocar esse blues do inferno". Um bom começo de viagem, mas infelizmente comecei pelo final da letra. Antes de vender a alma em troca de poder com a guitarra, ao melhor estilo lendário de Robert Johnson e sua encruzilhada¹, o narrador começa: "Eu vou descer o rio, só eu e minha guitarra". Esse verso tão simples é tão poderoso na voz de Noronha que só ouvindo pra compreender. A entonação em "my guitar" explica tudo. Ele fala dela como se estivesse falando da própria mulher, dada a importância do instrumento. E não poderia deixar de ser. A guitarra de B.B. King chama Lucille, em homenagem a uma mulher no mínimo notável². Aqui nessa música, o narrador desce o rio, com sua fiel companheira "em busca da inspiração que há muito ele não encontra". Tudo isso é permeado pela poderosa guitarra real de Noronha e seus riffs sempre implacáveis. É impressionante a energia que essa música traz. Faz o verso da "busca pela inspiração" se tornar uma ironia completa... Mas gosto bastante do baixo dessa música também. Ele conduz as levadas maestralmente, inspirador. Logo a voz retorna: "Vou beber a Água Lamacenta, me traga um Mojo também" diz ele numa provável referência ao mestre do blues, Muddy Waters e logo em seguida vem meu verso preferido, e dessa vez sim, dedicado à uma mulher de verdade: "O que for preciso, minha querida, pra que eu possa tocar esse blues pra você". Pronto. Agora ficou tudo exclarecido. Ta aí o motivo de procurar até a Senhora Voodoo. "O que for preciso". E o que os caras não fazem pra "tocar um blues" pra sua amada? O blues não tem limites para o amor. E Noronha vai longe, até o ponto de vender a própria alma. O melhor de tudo é que agora ele pode tocar esse maravilhoso "blues do inferno". A letra pode ser uma história fictícia, mas que a música tem algo de místico, isso tem; e o solo prova isso com todas as notas. Só ouvindo pra entender o poder contido ali. O poder que vem da sua companheira, sua amiga, sua amante, e aquela única que pode acompanha-lo rio abaixo: sua guitarra ;)

1- Segundo uma famosa lenda do mundo do blues, Robert Johnson, considerado um dos pais do Delta Blues, teria vendido sua alma em uma encruzilhada na estrada em troca dos acordes excelentes que o consagraram.
2- Uma história verídica conta que houve um incêndio num bar em que B.B. King havia acabado de se apresentar. Mais tarde ele descobriu que o fogo começou devido a uma briga entre dois homens por causa de uma mulher chamada Lucille. O mestre não pensou duas vezes em batizar sua guitarra - que quase se perdeu nas chamas - com o mesmo nome. Genial.

Nunca ouviu?

Não precisa vender a sua alma, mas precisa ouvir. Escute:

Aumente o volume, acesse o site deles e escolha lá em cima a música título do CD "Blues From Hell". Aproveite e ouça todas ;)

Comentários

Felipe disse…
Cara esse eh um dos melhores sons dele!!!