Experiente, Whitesnake faz show bom e tradicional em São Paulo

Banda se apresentou em São Paulo no dia 22/09/2016

Whitesnake em São Paulo. Foto: Felipe Andarilho / Divulgação

Ao contrário do que meus amigos costumam pensar, houveram outras bandas fundamentais na minha vida além dos Beatles.


Uma delas foi Whitesnake. A banda de David Coverdale, ao lado dos Scorpions, foi a banda que me fez conhecer o Hard Rock e me apaixonar de vez pela vertente que é uma das minhas favoritas até hoje.

Apesar de escutá-los desde garoto, foi em 2005 que eu percebi que o Rock pesado mexia comigo de uma forma até então inédita - ou mais precisamente, de um jeito que os Beatles não mexiam. Foi o ano do festival Live N Louder que trouxe os Scorpions para São Paulo juntamente com Nightwish e outras bandas.

Nunca esqueci aquele dia.

Nesse mesmo ano o Whitesnake havia vindo também numa turnê com o Judas Priest. Na ocasião, apesar de os shows ainda não serem cretinamente caros como hoje, eu era só um estagiário e não consegui ir. Foi triste, mas outras oportunidades viriam, eu pensava, otimista.

Um amigo foi nesse show e, quando voltou, repetia, embasbacado:

- O Coverdale é um Filho da Puta! Canta Demais. Still of the Night. Still of the Night!

Ele demorou algum tempo para falar outra coisa. Leia mais sobre essa história nesse texto.

O tempo passou e outras oportunidades realmente vieram.

David Coverdale. Frontman do Whitesnake. Foto: Divulgação

Coverdale aterrissou no Brasil outras vezes, em 2009, 2011 e 2013.

Em nenhuma delas consegui ir. Em uma faltou grana. Em outra eu estava viajando. Em outra me recusei a pagar tão caro. Não deixava de ser triste e irônico: uma das primeiras bandas que conheci na vida e eu simplesmente não conseguia ir no show.

Entretanto a hora finalmente chegou e consegui, depois de 11 anos, redimir aquela antiga dívida que eu tinha comigo mesmo.

Still of the Night. Era hora de conferir o Whitesnake.

Uma das coisas que mais gosto num show de Rock é o clima do ambiente. Você chega lá e encontra todo mundo de preto, com camisas de banda, conversando felizes e bebendo cerveja. É uma sensação gostosa e rara de encontrar. É o tipo de local que você pode parar e conversar com qualquer estranho e vocês dois irão se dar tão bem como se fossem melhores amigos. Está todo mundo movido pela música. Todo mundo com o botão do Foda-se ligado. Livre de amarras e pronto para ser quem realmente é.

E era assim que o Citibank Hall estava.

Pontualmente, as 21h30, Coverdale entrou no palco com sua banda. Mandaram de cara Bad Boys a poderosa abertura do disco "1987", o mais famoso da banda. Embora soe ridículo o título de uma turnê como "Greatests Hits Tour" que mais parece uma desculpa por não ter um disco novo, o Whitesnake tem licença poética para usá-lo, afinal esse disco "1987" juntamente com "Slide It In" são álbuns recheados de Greatests Hits. Só pedrada. Só música que impregna na cabeça e não sai.

E foi assim o show inteiro.



Clássicos atrás de clássicos, a banda presenteou o público com pérolas supremas do Rock como Fool For Your Lovin', Love Ain't No Stranger, Slide It In e Deeper The Love.

Judgement Day mostrou peso e Slow and Easy suingue de forma impecável.

Após Here I Go, uma das obras primas da banda e hino do Rock, o público cantou parabéns ao vocalista, afinal era seu aniversário de 65 anos. Isso foi algo único e inesperado que num show bastante tradicional foi muito bem-vindo. Confesso que esperava um pouco mais de simpatia do músico, afinal não é sempre que a plateia se dispõe a fazer uma homenagem como essa. Impossível não comparar com Glenn Hughes, antigo parceiro de Coverdale, que se apresentou uma semana antes. Diferente do amigo, o baixista esbanjou carisma, discursou e agradeceu várias vezes ao público. Esse tipo de atitude torna o show sempre mais memorável.

Give Me All Your Love, uma das minhas canções favoritas da banda, foi um dos pontos altos da apresentação, mas não tão alto quanto outra das raras surpresas da noite: um trecho pequeno, mas comovente de Ain't No Love in the Heart of City, um blues sensacional do grupo.

Permeando as canções, como era de se esperar num show Hard Rock, solos compridos de guitarra, bateria e até baixo mostraram a perícia dos músicos que acompanham Coverdale atualmente. Destaco especialmente o baterista que, após um solo fenomenal, se livrou das baquetas e tocou com os braços como um louco. Sensacional.

Apesar do público ter recebido as canções de forma bastante morna - ao menos na região da pista em que eu estava -, Is This Love outro hino do Rock que não podia faltar, pareceu finalmente quebrar o gelo que impedia a plateia de cantar junto.



O que restou de gelo foi finalmente derretido nas duas canções finais: Still of The Night, paulada feroz que, de fato, me fez ficar repetindo seu título como um tonto por horas, e Burn, clássico da banda Deep Purple da fase em que Coverdale comandava o microfone.

Houve quem reclamasse do som da casa. Percebi, principalmente na primeira metade do show uma qualidade ruim no microfone que fazia a voz do cantor sair abafada e irreconhecível. Com o tempo parece que a coisa melhorou. Fora isso o som não chegou a comprometer a experiência.

Foi, enfim, um bom show. Poderia ter sido melhor se a banda saísse um pouco mais do script e, quem sabe, improvisasse outras canções. Mas foi o esperado do que se pode chamar de "Greatests Hits Tour": clássicos atrás de clássicos. Solos e muitos agudos de David Coverdale, um dos grandes nomes do Rock.

11 anos depos. Dívida liquidada ;)

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