A cena parece tristemente comum. Um deputado conivente com um Governo corrupto comemora a salvação do Presidente. Para isso ele entoa os versos:
Leigo que sou, decido pesquisar sobre Benito de Paula.
Encontro que o músico foi duramente criticado no passado justamente pela composição dos versos acima que, mais de 40 anos depois, ajudariam o deputado a dançar.
O motivo das críticas na época do lançamento da canção, mais precisamente em 1976, foi que alguns ouvintes entenderam na canção uma posição de comodismo com relação à ditadura. Para eles, com um Governo ditador no comando, ninguém poderia jamais dizer que tudo estava no seu lugar. Pelo visto, estas pessoas não sabiam ou ignoraram que, como disse o compositor, a música era para sua mãe. Só isso. Nada de contexto social nesse caso. Nada de problemas, de politicagem. Era só uma homenagem à mãe. E qual o mal nisso?
No documentário da Netflix sobre a vida de Nina Simone, a poderosa cantora de Jazz questiona:
É um ato nobre. Sem dúvidas que sim.
São artistas que usam o poder e o dom que lhes foi dado para algo maior do que o simples entretenimento.
Ainda assim, será que todo artista deve obrigatoriamente, como sugere Simone e os críticos de Di Paula, refletir os tempos?
Penso que mundo chato seria esse em que toda e qualquer canção tenha um cunho político e, consequentemente, uma carga energética pesada.
Música é uma forma de extravasar uma emoção. Seja ela o ódio pelo preconceito, seja a alegria por encontrar um amor. Seja o desprezo contra a política corrupta, seja a tranquilidade de, digamos, apreciar uma gravata de um desconhecido na rua.
O artista que reflete seu tempo é, sem dúvida um grande artista e será devidamente reconhecido pela coragem que faz pulsar nas pessoas que os ouvem. É um artista essencial para o mundo. Assim como aquele artista que celebra a vida, em qualquer detalhe ou ponto de vista. Há música para qualquer momento e tudo que é demais, cansa ou faz mal. Fã que sou do Gabriel, o Pensador, tenho que assumir que não consigo escutá-lo por tempo demais. Simplesmente porque não consigo me desligar de suas rimas. Quando o ouço, tenho que prestar atenção na letra. Tenho que compartilhar com ele minha indignação. Tenho que ficar chateado e raivoso com o meu País de merda. Não consigo ouvir Brasa ou Até Quando? e não ficar mal. Na bad, mesmo.
O mesmo acontece quando ouço Beatles, a banda da minha vida. É tanta romantismo que, uma hora sinto que preciso de algo mais abstrato, menos compreensível. Quem sabe até instrumental, assim eu não cismo de cantar e interpretar junto.
Há espaço para tudo na cabeça de um ouvinte médio.
Há lugar para o músico crítico e há lugar para o músico apreciador. Há também lugar para o viajante, aquele que fala do nada e do tudo e ninguém entende direito do que se trata.
Essa é uma das melhores coisas da música. Há música para tudo. Para todos. Para qualquer momento e qualquer emoção.
Aos músicos que refletem os tempos, o meu máximo respeito. Vocês não serão esquecidos. Aos que cantam sobre outras coisas, pequenas ou grandes, mas o fazem com o coração, respeito por vocês também ;)
Para não dizer que não teve música:
Tudo está no seu lugar. Graças a Deus. Graças a Deus.A música a que esses versos pertencem foi composta por Benito di Paula, um cantor e compositor consagrado da música brasileira. Desgostoso com o contexto ao qual sua canção foi associada, o músico reclamou, dizendo que a canção tinha sido composta para sua mãe, não para o cenário de sujeira e lambança que ilustra nosso Parlamento.
Benito di Paula não gostou (com razão) da comemoração do deputado ao som de sua música. Foto: Reprodução |
Leigo que sou, decido pesquisar sobre Benito de Paula.
Encontro que o músico foi duramente criticado no passado justamente pela composição dos versos acima que, mais de 40 anos depois, ajudariam o deputado a dançar.
O motivo das críticas na época do lançamento da canção, mais precisamente em 1976, foi que alguns ouvintes entenderam na canção uma posição de comodismo com relação à ditadura. Para eles, com um Governo ditador no comando, ninguém poderia jamais dizer que tudo estava no seu lugar. Pelo visto, estas pessoas não sabiam ou ignoraram que, como disse o compositor, a música era para sua mãe. Só isso. Nada de contexto social nesse caso. Nada de problemas, de politicagem. Era só uma homenagem à mãe. E qual o mal nisso?
No documentário da Netflix sobre a vida de Nina Simone, a poderosa cantora de Jazz questiona:
Como você pode ser um artista e não refletir os tempos?Ativista ao extremo, Nina Simone é um dos exemplos de vozes que, assim como Bob Dylan, Midnight Oil, O Rappa e Gabriel, o Pensador, vivem para cantar sobre as mazelas do mundo. São artistas que se inspiram no contexto social de seus países e do mundo e daí retiram suas rimas, melodias e ritmos. Mais do que isso, são vozes que cantam por quem não pode cantar.
Nina Simone, uma das vozes mais fervorosas do mundo. Foto: Divulgação |
É um ato nobre. Sem dúvidas que sim.
São artistas que usam o poder e o dom que lhes foi dado para algo maior do que o simples entretenimento.
Ainda assim, será que todo artista deve obrigatoriamente, como sugere Simone e os críticos de Di Paula, refletir os tempos?
Penso que mundo chato seria esse em que toda e qualquer canção tenha um cunho político e, consequentemente, uma carga energética pesada.
Música é uma forma de extravasar uma emoção. Seja ela o ódio pelo preconceito, seja a alegria por encontrar um amor. Seja o desprezo contra a política corrupta, seja a tranquilidade de, digamos, apreciar uma gravata de um desconhecido na rua.
O artista que reflete seu tempo é, sem dúvida um grande artista e será devidamente reconhecido pela coragem que faz pulsar nas pessoas que os ouvem. É um artista essencial para o mundo. Assim como aquele artista que celebra a vida, em qualquer detalhe ou ponto de vista. Há música para qualquer momento e tudo que é demais, cansa ou faz mal. Fã que sou do Gabriel, o Pensador, tenho que assumir que não consigo escutá-lo por tempo demais. Simplesmente porque não consigo me desligar de suas rimas. Quando o ouço, tenho que prestar atenção na letra. Tenho que compartilhar com ele minha indignação. Tenho que ficar chateado e raivoso com o meu País de merda. Não consigo ouvir Brasa ou Até Quando? e não ficar mal. Na bad, mesmo.
O Pensador, capaz de nos fazer refletir sempre, em cada verso. Foto: Divulgação |
O mesmo acontece quando ouço Beatles, a banda da minha vida. É tanta romantismo que, uma hora sinto que preciso de algo mais abstrato, menos compreensível. Quem sabe até instrumental, assim eu não cismo de cantar e interpretar junto.
Há espaço para tudo na cabeça de um ouvinte médio.
Há lugar para o músico crítico e há lugar para o músico apreciador. Há também lugar para o viajante, aquele que fala do nada e do tudo e ninguém entende direito do que se trata.
Essa é uma das melhores coisas da música. Há música para tudo. Para todos. Para qualquer momento e qualquer emoção.
Aos músicos que refletem os tempos, o meu máximo respeito. Vocês não serão esquecidos. Aos que cantam sobre outras coisas, pequenas ou grandes, mas o fazem com o coração, respeito por vocês também ;)
Para não dizer que não teve música:
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