Velhos, Flores, Criancinhas e Cachorros

Jorge nos mostra um lampejo da luz do Pai numa obra-prima musical

Salve Jorge. Jorge Ben, grandioso mestre supremo da cultura e da música brasileira. Um dos poucos orgulhos desse país, porém dos maiores deles sem dúvida, cuja imensa luz e graça musical nos brinda mais uma vez com um hino a Deus Pai, o qual com imensa graça concedeu à esse homem o poder de cantar e tocar. Em igual bondade nos concedeu o direito de ouvir e ler com atenção essa canção do disco "Solta o Pavão", de 1975. Segue a letra:




Velhos, Flores, Criancinhas e Cachorros
(Ben)

Deus todo poderoso eterno pai da luz, da luz
De onde provem todos bens e todos dons perfeitos
Imploro vossa misericórdia infinita, infinita
Deixai-me conhecer um pouco de vossa sabedoria eterna
Aquela que circunda o vosso trono
Que criou e fez, que tudo faz e conserva tudo

Fazei-me digno enviando do céu prá mim, prá mim
Imploro por vós e por Jesus Cristo, por Jesus Cristo
A pedra celeste angular miraculosa, miraculosa
Estabelecida por toda a eternidade
Maravilhosa, maravilhosa

Que comanda e reina convosco
Que comanda e reina convosco
Meu Deus todo poderoso
Meu Deus todo poderoso

Pois eu preciso salvar os velhos, eu preciso salvar as flores
Eu preciso salvar as criancinhas e os cachorros.

Imploro por vós e por Jesus Cristo, por Jesus Cristo
A pedra celeste angular miraculosa, miraculosa
Estabelecida por toda a eternidade
Maravilhosa, maravilhosa

Que comanda e reina convosco
Que comanda e reina convosco
Meu Deus todo poderoso
Meu Deus todo poderoso

Pois eu preciso salvar os velhos, eu preciso salvar as flores
Eu preciso salvar as criancinhas e os cachorros.

Vamos à andança...

Outra banda brasileira capaz de gerar orgulho nos ouvintes, o Skank, disse certa vez: "Sua mão direita vale ouro, que trouxe o novo som pra dividir com os outros. Simpatia gera simpatia. Alegria gera alegria". Essa homenagem à Jorge na canção Do Ben do quarteto mineiro serve para expressar a gratidão de quem se sente agraciado com músicas que fazem tão bem à nós, humildes ouvintes. Sim, fazem bem mesmo. Pare, abra sua mente e leia novamente a letra acima. A primeira vista pode parecer só uma oração cristã, vinda de um homem com uma fé notável em Deus. Mas não é uma oração. No refrão entenderemos por quê. Primeiro temos uma introdução magistral que eleva Deus Pai, Jesus Cristo e o Espírito Santo - as três figuras máximas da fé cristã - à, talvez, a maior glória que seja possível atingir com meras palavras. O que não é possível ser dito, vem expresso num balanço instrumental maravilhoso. Nele, o violão do mestre Ben comanda um ritmo alegre que, como disse o Skank acima, só é capaz de gerar ainda mais alegria. Desde o começo, com o ritmo e as vocalizações de Ben, sentimos que daí vem coisa boa, muito boa. A introdução termina com a invocação: "Meu Deus, todo poderoso" que, logo em seguida é repetida pelo coro feminino, um dos pontos mais emocionantes da obra. Logo que as múltiplas vozes terminam a singela frase, Jorge emenda o refrão com seu sotaque carioca revigorante: "Pois eu preciso salvar os velhos. Eu preciso salvar as flores. Eu preciso salvar as criancinhas, e os cachorros", mostrando o motivo da reza e também a razão dessa não ser mais uma oração. Descobrimos aqui que a suplicação pela "Sabedoria Eterna" (ou quem sabe Espírito Santo) nada mais é do que uma necessidade de salvar esses quatro elementos. É isso. Todo o discurso incrivelmente belo e humilde não é para pedir nada pra si próprio. É somente para ajudá-lo a salvar os velhos, as flores, as criancinhas e os cachorros. Resumidamente, tudo de puro que ainda existe no mundo. Repare que não há o termo "homem". Afinal, essa fase da vida é aquela compreendida entre a infância e a velhice, onde o homem se torna um escravo do dinheiro e do ego e esquece sua humildade e compaixão - virtudes depositadas nele logo em seu nascimento, mas que foram misteriosamente desaparecendo... Só voltam na velhice, quando o homem está cansado da forma como foi tratado pelo mundo. Já os outros dois grupos são, sem dúvida, os elementos que nunca perdem sua essência. A simplicidade e servidão tornam ainda mais supremos as flores e os cachorros, que assim como as virtudes, nos foram dados por Deus, mas que nem sempre cuidamos deles como deveríamos. Numa abstração maior, servem como alusão à natureza e aos animais, tão negligenciados pelos "donos do mundo". Mereciam todos serem salvos. É por isso que Jorge está aqui. Para salvá-los e à nós com sua música ;)

Salve Jorge.

Nunca ouviu?

Salve-se agora. Escute:

Comentários

Alan Borges disse…
Cara, o Ben é sensacional, sem palavras!
Andarilho disse…
É Mestre Alan, esse é Mestre Supremo!