Uma grande vergonha

Crítica à guerra pela voz de quem preza pelo amor

Desde a primeiríssima vez que escutei o disco "In Between Dreams" do meu querido Jack Johnson, fiquei fisgado por essa canção. Primeiramente - e até por quê meu inglês há alguns anos era ainda pior do que é hoje - fui pego pela levada instrumental. Mais tarde, quando li a letra toda, vi que ali havia muito mais do que eu imaginava. É de 2005. Segue a letra:




Crying Shame
(Johnson)

It's such a tired game
Will it ever stop?
How will this all play out
Out of sight, out of mind

By now we should know how to communicate
Instead of coming to blows
We're on a roll
And there ain't no stopping us now
We're burning under control
Isn't it strange how we're all burning under the same sun?

Buy now and save, it's a war for peace
It's the same old game
But do we really want to play?
We could close our eyes its still there
We could say it's us against them
We could try but nobody wins
Gravity has got a hold on us all

We could try to put it out, but it's a growing flame
Using fear as fuel
Burning down our name
And it won't take too long
'Cause words all burn the same
And who are we going to blame now?

It's such a crying, crying, crying shame

By now it's beginning to show
A number of people are numbers that aren't coming home
I could close my eyes it's still there
Close my mind be alone
I could close my heart and not care
But gravity has got a hold on us all

It's a terrific price to pay
But in the true sense of the word
Are we using what we've learned?
But in the true sense of the word
Are we losing what we were?

It's such a tired game
Will it ever stop?
It's not for me to say
Is it in our blood or is it in our fate?
And how will this all play out?
Out of sight, out of mind
Who are we going to blame all in all?

It's just a crying, crying, crying shame

Vamos à andança...

Jack Johnson é um cara que aprecia falar das coisas boas da vida. Com serenidade e qualidade, ele quase sempre fala sobre amor, amizade e sobre o mar, como é o caso de Banana Pancakes e Drink the Water, por exemplo. Entretanto, em algumas ótimas ocasiões o surfista aponta seu violão pra fortes questões sociais, como em Cookie Jar e na belíssima Gone. Em termos de crítica, a canção de hoje se assemelha mais à primeira, pois Johnson faz uma crítica generalizada ao nosso mundo atual - ou mais especificamente aos conflitos que a humanidade insiste em criar. Em Crying Shame, Johnson abre a canção com cordas suaves e singelas batidas na percussão de Adam Topol. Logo ele começa a recitar, encarnando o cansaço da letra que diz: "É um jogo tão cansativo... Quando isso vai parar? Como vai parar? Além da visão, além da mente". Nesse trecho um pequeníssimo detalhe faz toda a diferença: uma única nota aguda do piano de Zach Gill. Uma nota solitária, mas que tem muito a dizer, assim como esse protesto sincero. Após essa estrofe a canção vira: Topol acelera na bateria e as cordas da guitarra de Johnson começam a ganhar vida, porém ainda em último plano. É mais importante a fala por enquanto. Por isso ele diz versos fortes como: "Estamos em uma guerra pela paz. É o mesmo velho jogo, mas realmente queremos jogar? Podemos fechar os olhos, mas ainda está lá. Poderíamos dizer que somos nós contra eles, mas ninguém venceria. A gravidade prende à todos nós igualmente". Muita atenção nessa última frase. Ela mostra o por quê da indignação do cantor. A gravidade representa o mundo, que é o mesmo pra todos. Vivemos todos no mesmo lugar, somos todos iguais. O U2 já questionou isso com sua obra-prima One. Os Scorpions também colocam a mesma questão num verso muito bonito da Under the Same Sun: "Pois vivemos sob o mesmo Sol, então por quê não conseguimos viver unidos?". É isso que o brother Jack quer saber. Por quê guerrear em vez de se abraçar? Por quê dominar os mais fracos, em vez de ensiná-los? Por quê ter sempre mais em vez de doar a quem não tem? A tristeza do cantor culmina no refrão: "É uma terrível vergonha!". Cada dolorido "It's such a crying, crying... Shame" é emocionante e os músicos ainda conseguem criar um ritmo bacana e altamente viajante, destacando a guitarrinha de Johnson que vai ganhando forma conforme a canção avança. Antes dos refrões é ela quem domina, emocionada. Lá pelos 50 segundos, a canção dá uma caída e a guitarra do surfista lança pequenos trechos de viagens. Impecável. O todo resulta numa obra de primeiríssimo nível - uma das melhores canções do melhor disco do Jack e de sua banda. Vindo de um cara que vive em plena paz, a indignação com a guerra soa ainda mais legítima ;)

Nunca ouviu?

É uma vergonha, mas tem cura. Escute:

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