Curto e com altos e baixos, Orishas marca retorno em São Paulo

Show do Orishas em 01/12/2017, em São Paulo

Um dos grupos que mais admiro na vida é o Orishas, trio cubano de música latina.

Tanto que os escolhi para ilustrar o texto que fechou o ano de 2013, enquanto morei na Austrália.

Tanto que os escolhi para o texto de número 501 aqui do blog.

Orishas veio ao Brasil para show único na última sexta-feira. Foto: Divulgação

Quase ninguém conhece.

Quando me perguntam que tipo de som eles fazem, é sempre difícil responder. Começa no Hip Hop, sim. Mas é muito mais. Cada música deles traz uma carga de influências e misturas de ritmos latinos que fica não apenas difícil, mas injusto, classifica-los somente como Hip Hop.

É o tipo de banda do seleto grupo que contém O Rappa, Bomba Estéreo, Living Colour e Red Hot Chili Peppers. Bandas que não podem ser classificadas. Bandas cujo estilo são eles próprios.

Com a maestria desses poucos que conseguem fundir estilos e referências para formar um som único, os Orishas passeiam pelo Rap rápido e emendado, pela ritmo contagiante da Salsa cubana, pela viagem de um Lounge e pela harmonia de um belo Pop.

Para entender é só colocar duas canções lado a lado:

Confira Reina de La Calle:



Agora confira Elegante:



Essas canções são completamente diferentes. Não fosse pela voz marcante de Roldán González Rivero, poderiam ser facilmente atribuídas a duas bandas diferentes. O mais legal: as duas canções são do mesmo disco, no caso "El Kilo", de 2005.

Orishas começou como um quarteto em 1999 com seu álbum mais bem sucedido, a estréia "A Lo Cubano", cuja canção título talvez seja a mais famosa da banda.

A partir daí o, então trio, lançou mais 3 discos: o excelente "Emigrante", a obra-prima "El Kilo" (melhor álbum deles na minha opinião) e o também ótimo: "Cosita Buena", este último em 2008.

No ano seguinte o grupo encerrou as atividades, deixando fãs do mundo todo angustiados com o desperdício de tempo de uma das bandas latinas mais representativas e interessantes do mundo. São poucos que cantam nossas mazelas para o mundo e o Orishas era uma dessas vozes. E cantava como ninguém, colocando num suingue empolgante e energético criticas ferrenhas à desigualdade social que insiste em imperar aqui desse lado do globo.

Grupo fala em suas músicas sobre desigualdade social e problemas dos países latinos. Foto: Divulgação

Eis que, ano passado, a banda anunciou sua volta.

Além de excursionar pelo mundo, o grupo lançaria um novo disco.

A turnê incluiria o Brasil, o que é ótimo, pois costumamos ser afastados dos nossos vizinhos latinos e muitas bandas boas dos nossos hermanos evitam vir aqui por falta de interesse nosso na música deles. Se você ligar o rádio por 24 horas em qualquer estação vai poder contar nos dedos de uma mão as vezes em que toca uma música em espanhol. Não se surpreenda se não tocar nenhuma vez ou se a única vez que tocar seja um hit do verão como Despacito ou Kuduro.

Infelizmente nossa mentalidade norte-americanizada nos priva de muita coisa boa que temos aqui tão perto. Orishas é um desses casos. São poucos que conhecem e, pela quantidade de VIPs na fila do Tropical Butantã é fácil supor que muitos ingressos não foram vendidos e passaram a ser entregues gratuitamente apenas para que a casa não ficasse vazia.

Isso se refletiu também na apresentação do grupo onde tanto a banda como o público errou. A banda por jogar de frma segura, priorizando seu primeiro disco, o mais conhecido, "A Lo Cubano" e o público por justamente só conhecer esse trabalho. Pode-se dizer que, salvo algumas exceções o show dividiu-se em 70% canções do primeiro álbum e 30% de músicas novas que a banda provavelmente irá inserir em seu próximo disco.

A Lo Cubano, primeiro disco dos Orishas e sua mais famosa obra. Foto: Divulgação

O resultado não poderia se outro: um show com altos e baixos muito evidentes.

Em um momento o público cantava alto e se empolgava com músicas consagradas como Atrevido, Mística, Represent e 537 Cuba.

Em outro parecia estar dormindo com as canções inéditas ou nas poucas que escaparam do primeiro álbum como Hay un Son.

A exceção que confirma a regra e não por acaso um dos melhores momentos do show, foi Nací Orishas, única canção do disco "El Kilo" tocada e que, graças ao seu ritmo altamente empolgante e viajante, levou o público ao delírio.

Isso para uma apresentação com pouco mais de 1 hora deixou um grande gosto amargo na boca. Um gosto que dizia que o show poderia ser muito melhor. Com tanto material bom no repertório era fácil montar um setlist de pelo menos 2 horas que, mesmo permeadas com músicas desconhecidas, não deixaria o pessoal ficar parado.

No fim das contas o saldo é sempre positivo. Era uma banda que eu nunca tinha visto ao vivo e, dada as circunstâncias, nunca se sabe quando haverá outra chance (a última no Brasil foi em 2009, 8 anos atrás). Portanto não me arrependo de ter ido.

Mas que Orishas poderia fazer muito mais, ah sim, poderia ;)

Comentários

Drika disse…
Oi Felipe. Não pude ir em dezembro e fiquei arrasada. Fui no show de 2009 e, de verdade, foi o show que mais curti na minha vida! Por isso dei pulos de alegria quando soube do show de fevereiro e é claro que vou! Como você mesmo disse, vai saber quando vamos ter essa oportunidade de novo. Estava fuçando e fiquei meio decepcionada quando vi a setlist de dezembro. Realmente, há tantas coisas mais, tantas músicas ótimas que é um pouco decepcionante imaginar um show tão curto e sem muitas das minhas favoritas. Mesmo assim, acho que vai ser ótimo ver algumas das antigas e poder curtir Bembé e Sastre de Tu Amor ao vivo.
Felipe Andarilho disse…
Pois é Adriana. Quando soube desse novo show fiquei feliz e triste ao mesmo tempo. Feliz pela nova visita deles aqui em tão pouco tempo. Triste porque não poderei ir e tenho certeza que será um show melhor do que o que eu fui. Mas a vida tem dessas. Vamos em frente que a música não para! Obrigado pela visita!