Em vez de lamentar, podemos resolver
Como muitos dos meus leitores já sabem, a banda do meu coração é e sempre será Beatles. Conheci a banda aos 13 anos e desde então nunca parei de me aprofundar no universo dos garotos de Liverpool. Com o passar do tempo minha preferência por alguns discos muda ou passo a admirar sonoridades que antes não me fisgavam tanto. Mas o lado bom de ter uma boa memória é que eu sempre me lembro das canções e discos que foram meus preferidos em alguma época da vida. Essa canção é muito especial para mim, pois foi a primeira - isso, primeira - a ser minha música preferida dos Beatles. Foi lançada como um single em 1965 e depois apareceu na coletânea de singles "Past Masters" de 1988. Segue a letra:
We Can Work it Out
(Lennon/McCartney)
Try to see it my way
Do I have to keep on talking till I can't go on
While you see it your way
Run the risk of knowing
that our love may soon be gone
We can work it out
We can work it out
Think of what you're saying
You can get it wrong
And still you think that it's all right
Think of what I'm saying
We can work it out
and get it straight or say goodnight
We can work it out
We can work it out
Life is very short
and there's no time
for fussing and fighting,my friend
I have always thought
that it's a crime
So I will ask you once again
Try to see it my way
Only time will tell if I am right or I am wrong
While you see it your way
There's a chance that we might fall apart
Before too long
We can work it out
We can work it out
Life is very short
and there's no time
for fussing and fighting,my friend
I have always thought
that it's a crime
So I will ask you once again
Try to see it my way
Only time will tell if I am right or I am wrong
While you see it your way
There's a chance that we might fall apart
Before too long
We can work it out
We can work it out
Dê o play e comece a viagem:
Vamos à andança...
Eu tive uma infância feliz. Não posso reclamar. Joguei bola, escalei muros e corri como a maioria das crianças de sorte. Porém quando penso na minha escola, as lembranças não são tão agradáveis. Não é que o ensino fundamental tenha sido traumatizante. Mas sempre quando penso na parte boa dos meus anos dourados, me vem à cabeça as aventuras no meu prédio, na casa da vó ou no lendário apartamento da família no Guarujá. Nunca na escola. Jamais na escola. Acho bacana que algumas pessoas lembrem das suas quintas e sextas séries com o mesmo carinho que o resto das experiências adolescentes. Mas esse não é meu caso. A escola para mim era apenas a obrigação. Eu ia, sem reclamar muito, e tentava ser um bom aluno com o único objetivo de não desapontar meus pais - nada além disso. Nem sempre eu conseguia, devo admitir... Tive alguns bons amigos da mesma série, mas todos se foram com o tempo. Talvez tenha sido por mero acaso. Talvez tenha sido porque aquela amizade era associada à uma fase e momento da vida que não tinham nada de especial para nós - diferente do resto da molecada. Não faziamos parte daquele universo. Enquanto nossos colegas brigavam para ver quem estaria no primeiro time de futebol, nós filosofávamos sobre filmes e livros. Tínhamos as vantagens de ser invisível. Se a atividade de maior entretenimento da maioria dos garotos era chutar a mochila um do outro, para nós era jogar RPG. Não íamos para matinês de domingo e não tentávamos pegar as meninas. Quando nos reuníamos fora da escola era para ir comer numa lanchonete ou dar uma volta pela cidade. Sem saber, fazíamos parte de uma "sociedade alternativa", como diria Raul Seixas. Tão alternativa que, enquanto a última moda da escola era ouvir Bonde do Tigrão, ouvíamos Beatles. We Can Work it Out foi a primeira canção à se tornar minha favorita, quando meu acervo da banda era apenas uma coletância com 27 músicas. Beatles desde o começo me capturou pela habilidade de falar de amor e amizade sem parecer piegas ou cafona. Na verdade eles eram muito legais. Ninguém na escola os conhecia, mas eu ia para a escola cantarolando We Can Work It Out mesmo assim. O ritmo dessa obra é bonito e poderoso. É conduzido por um acordeão - algo raro no arsenal instrumental Beatle. Ao fundo, um ótimo piano e a sempre presente guitarra de George Harrison fazem a base. Enquanto o balanço mantém a emoção ao fundo, Paul McCartney declama sua poesia tão preciosa quanto a instrumentação. Ele diz: "Tente ver as coisas do meu jeito. Tenho que continuar falando até não poder mais? Enquanto você vê do seu jeito, corremos o risco de saber que nosso amor em breve vai acabar". O refrão vem subtamente com uma leve virada, mas igual emoção: "Podemos dar um jeito". Essa expressão nunca saiu da minha cabeça. Por muito tempo não soube o que queria dizer, até que vi a mesma frase num jogo do velho Nintendo 64 e meu primo, em toda sua benevolência, a traduziu para mim. Passei a gostar ainda mais de We Can Work it Out. Enquanto a humanidade parecia interessar-se por problemas, aquilo era um chamado à solução. Era um convite à fazer as coisas direito. Em vez de discórdia, a canção clamava por harmonia. Era a perfeção em forma de notas e acordes. A ponte, dessa vez com a grande ajuda de John Lennon, dizia com sabedoria de mestres: "A vida é muito curta e não há tempo para ficar bravo e brigar, meu amigo". Pronto. Estava formado todo o meu conceito sobre a vida. Para quê brigar? Quando houver um problema, podemos dar um jeito. Foi o início da minha escalada na montanha da felicidade plena. Eu sabia que, com Beatles tocando ao fundo, eu conseguiria. Hoje, quando lembro da época descrita acima, não sinto arrependimento nenhum por ter agido como agi no meu tempo de escola. Não era o lugar perfeito, mas eu e meus amigos demos um jeito. E foi com esse tipo de pensamento que segui por toda a vida. Graças aos Beatles, sei como ela é curta e preciosa. Não importa a situação. Ao invés de lamentar e me entristecer, dou um jeito de encontrar o caminho ;)
"Com exceção da morte, para tudo dá-se um jeito nessa vida"
(Dona Tite)
Como muitos dos meus leitores já sabem, a banda do meu coração é e sempre será Beatles. Conheci a banda aos 13 anos e desde então nunca parei de me aprofundar no universo dos garotos de Liverpool. Com o passar do tempo minha preferência por alguns discos muda ou passo a admirar sonoridades que antes não me fisgavam tanto. Mas o lado bom de ter uma boa memória é que eu sempre me lembro das canções e discos que foram meus preferidos em alguma época da vida. Essa canção é muito especial para mim, pois foi a primeira - isso, primeira - a ser minha música preferida dos Beatles. Foi lançada como um single em 1965 e depois apareceu na coletânea de singles "Past Masters" de 1988. Segue a letra:
We Can Work it Out
(Lennon/McCartney)
Try to see it my way
Do I have to keep on talking till I can't go on
While you see it your way
Run the risk of knowing
that our love may soon be gone
We can work it out
We can work it out
Think of what you're saying
You can get it wrong
And still you think that it's all right
Think of what I'm saying
We can work it out
and get it straight or say goodnight
We can work it out
We can work it out
Life is very short
and there's no time
for fussing and fighting,my friend
I have always thought
that it's a crime
So I will ask you once again
Try to see it my way
Only time will tell if I am right or I am wrong
While you see it your way
There's a chance that we might fall apart
Before too long
We can work it out
We can work it out
Life is very short
and there's no time
for fussing and fighting,my friend
I have always thought
that it's a crime
So I will ask you once again
Try to see it my way
Only time will tell if I am right or I am wrong
While you see it your way
There's a chance that we might fall apart
Before too long
We can work it out
We can work it out
Dê o play e comece a viagem:
Vamos à andança...
Eu tive uma infância feliz. Não posso reclamar. Joguei bola, escalei muros e corri como a maioria das crianças de sorte. Porém quando penso na minha escola, as lembranças não são tão agradáveis. Não é que o ensino fundamental tenha sido traumatizante. Mas sempre quando penso na parte boa dos meus anos dourados, me vem à cabeça as aventuras no meu prédio, na casa da vó ou no lendário apartamento da família no Guarujá. Nunca na escola. Jamais na escola. Acho bacana que algumas pessoas lembrem das suas quintas e sextas séries com o mesmo carinho que o resto das experiências adolescentes. Mas esse não é meu caso. A escola para mim era apenas a obrigação. Eu ia, sem reclamar muito, e tentava ser um bom aluno com o único objetivo de não desapontar meus pais - nada além disso. Nem sempre eu conseguia, devo admitir... Tive alguns bons amigos da mesma série, mas todos se foram com o tempo. Talvez tenha sido por mero acaso. Talvez tenha sido porque aquela amizade era associada à uma fase e momento da vida que não tinham nada de especial para nós - diferente do resto da molecada. Não faziamos parte daquele universo. Enquanto nossos colegas brigavam para ver quem estaria no primeiro time de futebol, nós filosofávamos sobre filmes e livros. Tínhamos as vantagens de ser invisível. Se a atividade de maior entretenimento da maioria dos garotos era chutar a mochila um do outro, para nós era jogar RPG. Não íamos para matinês de domingo e não tentávamos pegar as meninas. Quando nos reuníamos fora da escola era para ir comer numa lanchonete ou dar uma volta pela cidade. Sem saber, fazíamos parte de uma "sociedade alternativa", como diria Raul Seixas. Tão alternativa que, enquanto a última moda da escola era ouvir Bonde do Tigrão, ouvíamos Beatles. We Can Work it Out foi a primeira canção à se tornar minha favorita, quando meu acervo da banda era apenas uma coletância com 27 músicas. Beatles desde o começo me capturou pela habilidade de falar de amor e amizade sem parecer piegas ou cafona. Na verdade eles eram muito legais. Ninguém na escola os conhecia, mas eu ia para a escola cantarolando We Can Work It Out mesmo assim. O ritmo dessa obra é bonito e poderoso. É conduzido por um acordeão - algo raro no arsenal instrumental Beatle. Ao fundo, um ótimo piano e a sempre presente guitarra de George Harrison fazem a base. Enquanto o balanço mantém a emoção ao fundo, Paul McCartney declama sua poesia tão preciosa quanto a instrumentação. Ele diz: "Tente ver as coisas do meu jeito. Tenho que continuar falando até não poder mais? Enquanto você vê do seu jeito, corremos o risco de saber que nosso amor em breve vai acabar". O refrão vem subtamente com uma leve virada, mas igual emoção: "Podemos dar um jeito". Essa expressão nunca saiu da minha cabeça. Por muito tempo não soube o que queria dizer, até que vi a mesma frase num jogo do velho Nintendo 64 e meu primo, em toda sua benevolência, a traduziu para mim. Passei a gostar ainda mais de We Can Work it Out. Enquanto a humanidade parecia interessar-se por problemas, aquilo era um chamado à solução. Era um convite à fazer as coisas direito. Em vez de discórdia, a canção clamava por harmonia. Era a perfeção em forma de notas e acordes. A ponte, dessa vez com a grande ajuda de John Lennon, dizia com sabedoria de mestres: "A vida é muito curta e não há tempo para ficar bravo e brigar, meu amigo". Pronto. Estava formado todo o meu conceito sobre a vida. Para quê brigar? Quando houver um problema, podemos dar um jeito. Foi o início da minha escalada na montanha da felicidade plena. Eu sabia que, com Beatles tocando ao fundo, eu conseguiria. Hoje, quando lembro da época descrita acima, não sinto arrependimento nenhum por ter agido como agi no meu tempo de escola. Não era o lugar perfeito, mas eu e meus amigos demos um jeito. E foi com esse tipo de pensamento que segui por toda a vida. Graças aos Beatles, sei como ela é curta e preciosa. Não importa a situação. Ao invés de lamentar e me entristecer, dou um jeito de encontrar o caminho ;)
"Com exceção da morte, para tudo dá-se um jeito nessa vida"
(Dona Tite)
Comentários
A minha música era outra, mas o princípio era o mesmo!
Muito bom!
E parabéns pelo texto! Excelente, mais uma vez.
Beijos e abraços!!