Documentário conta de forma competente a história do Heavy Metal brasileiro

Brasil Heavy Metal foi produzido com financiamento coletivo e chegou à nós por pura paixão

Em 2015, Ricardo Micka Michaelis, dono da produtora IdeiaHouse anunciou o projeto de financiamento coletivo para finalização do documentário Brasil Heavy Metal. De acordo com o produtor e músico, o filme já estava em fase de pós-produção e havia sido, até então, idealizado com verbas próprias da produtora. A ideia com a campanha era cobrir os custos finais. Um projeto ambicioso que não poderia ter sido sequer pensado por alguém que não fosse apaixonado pela ideia.



Por sorte, é justamente de paixão que o Heavy Metal vive.

Auto apelidado como "Uma Declaração de Amor ao Metal Brasileiro", o documentário exala essa paixão em todos os sentidos. Se a ideia já era audaciosa o bastante, afinal um longa-metragem envolve custos e operações logísticas enormes, o financiamento envolveu o outro lado da paixão: dos fãs que, como Micka, queriam investir naquele projeto. Estes que contribuíram foram apelidados pela produção de Imortais e ganharam um agradecimento pessoal nos créditos finais do filme, afinal não apenas ajudaram a alcançar a meta da produtora como a ultrapassaram.

E a paixão não ficou apenas na produção.

Em cada minuto de projeção o amor ao Rock pesado é quase palpável. É possível sentí-lo nas declarações dos entrevistados - músicos que fizeram história em bandas como Stress, Salário Mínimo, Made in Brazil, Santuário, Korzus, Sepultura, Patrulha do Espaço, Viper e vários outros. É possível vê-lo na dramaturgia que acompanha a narração e serve para situar expectadores que, como eu, por exemplo, não tiveram a oportunidade de viver na década de 80, anos em que o Heavy Metal nasceu e cresceu apesar das inúmeras, imensas e terríveis dificuldades.

Músico e produtor apaixonado: Micka, o idealizaro do projeto. Foto: Divulgação

Paixão X Dificuldades

Imagine um negócio que tinha tudo para não acontecer. Falta de equipamentos. Falta de profissionais técnicos. Falta de espaço midiático. Falta de lojas. Falta de tudo, menos paixão. Foi num cenário como esse que bandas como a paraense Stress conseguiram abrir brechas para lançar um compacto. Se você trabalha ou conhece alguém que vive de áreas relacionadas à cultura e arte como ilustradores, designers, músicos, atores, produtores audiovisuais, sabe que a coisa não é fácil. É preciso muito murro em ponta de faca. As mãos sangram e doem. Os dedos chegam a cair. Muita gente fica pelo caminho e vai atrás de outras áreas menos ingratas. Com o Heavy Metal no Brasil era tudo isso elevado à quarta potência.

Por isso é tão especial ver um documentário sobre essa história. Cada um daqueles caras oferecendo seus depoimentos é um herói. Um guerreiro que conseguiu sobreviver e vencer contra todas as possibilidades. Exércitos de quatro ou cinco caras e mulheres que enfrentaram de tudo: de preconceito à falta de grana. Mas no fim deu tudo certo. Vendo o documentário é possível dizer que valeu a pena. Até mesmo para quem abandonou o sonho de ter uma banda e ficar famoso, como os garotos da dramaturgia. Afinal, outros conseguiram e a música deles reinou e continua viva ainda hoje.

Cena da dramaturgia que acompanha a narração do documentário. Foto: Reprodução

Coadjuvantes

Se as bandas são os astros de Brasil Heavy Metal, a produção traz personagens coadjuvantes que merecem nota. Um deles é Walcyr Chalas, dono da loja Woodstock, que também ganhou um documentário emocionante nos últimos anos. Outro cara que dá as caras no filme é praticamente um sinônimo de Rock: Luiz Calanca, dono da loja e selo Baratos Afins que há décadas serve de referência para o Rock no Brasil com sua loja na Galeria do Rock. Foi ele, por exemplo, que ajudou Márcio Baraldi a encontrar canções do Serguei para o documentário sobre o Anjo Maldito do Rock Brasileiro. Até mesmo Roberto Medina, dono do Rock in Rio aparece no documentário, comentando sobre o impacto do Rock pesado naquela edição histórica do Festival em 1985 que trouxe nomes como ACDC, Ozzy Osbourne, Iron Maiden, Scorpions e Whitesnake. Faltou espaço para bandas brasileiras, é verdade e isso o filme não perdoa, mas é inegável a importância do cara e do Rock In Rio para o Rock no Brasil.

A edição é outro ponto alto da obra. Com uma produtora competente à mão, Micka conseguiu ditar ritmo e realçar o humor no documentário, tornando-o dinâmico e interessante. Para quem não é tão conhecedor do segmento será preciso recorrer ao pause para anotar diversos nomes de bandas e músicas para depois procurar na internet e ouvir.

Marielle Loyola da banda Volkana, uma das pessoas que empresta à voz na música tema do filme. Foto: Reprodução

Um Retrato Merecido

Brasil Heavy Metal tem tudo o que uma grande produção tem: conteúdo relevante, parte técnica apurada, história incrível e até música tema, outro destaque da obra. Elaborada especialmente para o filme e contando com dezenas de músicos compartilhando os vocais num novo hino à música pesada, a canção é boa e bem produzida. E falando em música, para quem comprar o DVD completo, há um CD bônus com canções selecionadas para recontar essa história apenas em áudio. Disco poderoso, agressivo e enérgico. Tudo o que o Heavy Metal é.

Vale a pena conferir o filme e, mais ainda, conhecer a história por trás dele. Eu, que agora sou um imortal, só posso sentir um pouco do orgulho que esses heróis sentem por fazer uma parte, ainda que pequena, nessa história.

E vida longa ao Metal ;)

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